Jornalismo Júnior

Página inicial
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

‘O Urso’: segunda temporada traz novos sabores às cozinhas de Chicago

Continuação da série expande universo e busca repetir fenômeno de crítica com mais caos e atuações cativantes
Por Fernanda Zibordi (fernanda.zpaulo@usp.br)

A série O Urso (2022-) nasceu despretensiosamente como o  drama de um restaurante falido tentando se reerguer na mão de excêntricos e instáveis cozinheiros. Sucesso tanto de público quanto de crítica, a história do renomado chef Carmen “Carmy” Berzatto (Jeremy Allen White) recebeu investimento para uma segunda temporada, originalmente lançada em junho de 2023. Entretanto, ela só chegou no Brasil após dois meses, pela plataforma Star+. O retorno da série veio recheado de expectativas dos fãs sobre como a qualidade da obra seria mantida ao mesmo tempo que novidades fossem inseridas. 

A segunda temporada segue diretamente os acontecimentos finais da primeira, com Carmy descobrindo uma enorme quantidade de dinheiro que foi guardada por seu falecido irmão, Mikey (Jon Bernthal), em latas de molho de tomate. O dinheiro não foi só essencial para retirar o restaurante de muitas dívidas, como também para investir em uma grande reforma que realizaria um sonho antigo dos irmãos: a inauguração do restaurante The Bear.

“ – Precisamos de um sócio, e essa é a verdade. O que me diz?
 – Quanto tempo até abrir?
 – Boa pergunta.
 – Sabe, bons sócios fazem boas perguntas”

Diálogo entre os personagens Carmy e Jimmy (Oliver Platt) durante a série.

Ao tentar um financiamento de 500 mil dólares com tio Jimmy, antigo amigo da família Berzatto, fica acordado que o estabelecimento deve ser reformado e inaugurado em até três meses, ou então tudo irá para o nome de Jimmy. Por meio dessa corrida contra o tempo é que os episódios da segunda temporada são apresentados, com o número de semanas restantes para a inauguração sempre presente em cada cena de abertura para apimentar o clima de tensão já conhecido pelos fãs da série.

Para corte de gastos, os próprios personagens decidem trabalhar juntos na reforma [Imagem: Reprodução/FX Networks]

Mudanças na receita

É perceptível que o sucesso da primeira temporada de O Urso colaborou para um maior investimento na produção e até uma ousadia no roteiro da sequência. Antes com uma ambientação centrada na cozinha do decadente The Original Beef of Chicagoland, os novos episódios exploram mais a cidade de Chicago. Montagem, edição e fotografia estão mais elaboradas e criativas, utilizando-se de cortes rápidos de filmagens que destacam a movimentação caótica da cidade e, claro, a arte de cozinhar.

As diferenças entre as temporadas se estendem para a própria história: a decisão de expandir os horizontes narrativos para além do cotidiano do restaurante foi certeira para que o roteiro não caísse na repetição do que já foi apresentado. Além do equilíbrio entre comédia e drama, a série se arriscou em abordar quem são as pessoas por trás do funcionamento desse lugar e quais questões da vida pessoal de cada uma delas refletem na forma como interagem na cozinha. Episódios mais reflexivos, que se distanciam dos problemas da reforma, ou exclusivamente focados na construção de personalidades, foram adições bem-vindas.

Carne crua ou ao ponto?

Da mesma forma que a temporada anterior, o prato principal da série permanece sendo os seus personagens que, com as mais variadas personalidades e temperamentos, formam um grupo extremamente caótico e conflituoso, mas que complementa-se bem em suas falhas e qualidades. A proposta da nova temporada foi, ao mesmo tempo, desenvolver melhor os personagens já existentes e introduzir novos para a trama. Porém, apenas uma dessas tarefas foi realizada com o nível de qualidade que a série sustenta.

Com a criação de uma força tarefa para a reforma do restaurante, Natalie (Abby Elliott) tem suas preocupações aprofundadas ao atuar como contadora do empreendimento e Fak (Matty Matheson) vai além do alívio cômico para se tornar importante integrante do time. Tina (Liza Colón-Zayas) também tem seu lado mais sensível e pessoal explorado, enquanto Marcus (Lionel Boyce) cresce como personagem na sua busca em se tornar um chef confeiteiro profissional.

Ainda assim, Carmy, Sydney (Ayo Edebiri) e Richie (Ebon Moss-Bachrach) são capazes de roubar a cena várias vezes durante a trama. O tempo e o roteiro focados em dar maior profundidade a eles, aliados às ótimas atuações do trio de atores, fazem com que seja fácil se afeiçoar e torcer para que os personagens superem seus problemas internos e entre si. Decidir o novo cardápio do restaurante ou até se tornar alguém menos egocêntrico no ambiente de trabalho são algumas das diversas questões enfrentadas.

A dinâmica entre Carmy e Sidney funciona ainda melhor que na temporada anterior, com os dois agora atuando em pé de igualdade na cozinha [Imagem: Reprodução/FX Networks]

Por outro lado, as caras novas não conseguem ser tão emblemáticas. Personagens como Claire (Molly Gordon), interesse amoroso de Carmy, e Luca (Will Poulter), chef confeiteiro que auxilia Marcus, possuem papel importante de motivar e trazer novas perspectivas aos que trabalham no restaurante, mas pouco além disso. Mesmo com a presença de bons atores, esses novos personagens não entregam o carisma necessário. A única exceção disso seria por parte do episódio “Peixes”, já considerado como um dos grandes destaques de toda série, de acordo com a jornalista Esther Zuckerman para a GQ. O episódio especial conta com a participação de estrelas como Sarah Paulson, Bob Odenkirk e Jamie Lee Curtis, que interpretam integrantes da família Berzatto de forma brilhante.

Marcus ganha destaque na nova temporada ao ter seus sentimentos e habilidades explorados [Imagem: Reprodução/FX Networks]

“Sim, Chef!”

Conseguindo manter um ritmo regular durante os dez episódios, a conclusão se destaca como um dos pontos altos da temporada. Saber o resultado de todo o esforço e desgaste depositado na abertura do novo restaurante traz uma carga emocional ainda mais forte para o enredo, principalmente diante dos diversos contratempos e reviravoltas que permanecem até as últimas cenas. Carmy passa a entender que as suas ambições não podem se realizar e nem sequer existirem se ele permanecer isolado com seus demônios.

Em um panorama geral, a série traz como uma das mensagens mais interessantes que cozinhar não se trata apenas de uma necessidade cotidiana. Pode ser arte, técnica, raciocínio, escapismo, passatempo, memória afetiva, trabalho em equipe ou simplesmente uma atividade superestimada e instrumentalizada pela alta gastronomia. A graça de pessoas com percepções tão diferentes sobre o tema é reuni-las para superar um desafio comum, e a série faz isso.

Sydney tem seu pai como uma das únicas bases de apoio diante do estresse enfrentado no restaurante [Imagem: Reprodução/FX Networks]

Da mesma forma que a primeira temporada conseguiu exceder as expectativas de ser apenas uma série sobre cozinhar, a segunda temporada de O Urso sai da zona de conforto e de sua fórmula de sucesso para explorar caminhos menos convencionais. Essa proposta acabou por dar ainda mais originalidade ao projeto e fazê-lo obter posição de destaque como uma das melhores séries do ano, conquistando um total de cinco indicações no Globo de Ouro 2024, entre elas a de Melhor Série de Comédia ou Musical. 

O canal americano FX e o serviço de streaming Hulu anunciaram no começo de novembro a renovação da série para a terceira temporada

Confira o trailer da segunda temporada:

Imagem de capa: Divulgação/FX Networks

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima