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A música na Idade Média: tudo se resumia à ave maria em latim?

O período medieval, ao contrário do que o imaginário popular acredita, continha uma rica diversidade de produções artísticas, principalmente musicais
Por Bárbara de Aguiar (barbaraaguiar@usp.br)

A Idade Média é resumida, muitas vezes, a condições de vida precárias, guerras, fomes, doenças e ao apogeu da igreja católica, mas esse extenso período histórico trouxe um rico repertório em diversas áreas do conhecimento humano, como a literatura e a música.

O começo da era medieval é marcado, segundo a maioria dos historiadores, pela queda do Império Romano do Ocidente, no século 5, e tem seu fim no alvorecer do Renascimento, no século 15. Quase mil anos separam o início e o declínio da Idade Média, e, devido à sua grande extensão, convencionou-se dividi-la em Alta Idade Média (século 5 ao século 10) e Baixa Idade Média (século 10 ao século 15). Mesmo com essa extensa duração, a Idade Média é erroneamente definida como um período de produções musicais exclusivamente religiosas, concepção que ignora a diversidade melódica que vigorava.

Com uma grande variedade de instrumentos e temas, a música se fazia presente 
em muitos espaços no período medieval. [Imagem: Reprodução/Facebook/Culturalizando]

“Assim como na atualidade, as produções que falam de sexo estavam presentes na Idade Média”, conta Aria Rita, professora especializada em música antiga e criadora de conteúdo digital sobre a área. Para a musicista, a divulgação de composições que fugiam do texto religioso são de suma importância para desmistificar o imaginário engessado do que é a Idade Média.

O nascimento da música medieval

Não há registros de qualquer peça musical nos primeiros séculos da Idade Média, e, justamente por isso, é impossível afirmar com exatidão quando a música medieval nasceu. Os especialistas do tema conhecem a existência desse tipo de produção apenas pela menção da sua presença em registros textuais — um material musical, com notas e melodias, não existe.

“Nós começamos a ter registro musical por volta do século 8. No período carolíngio temos as primeiras notações musicais medievais, que a gente chama de neumas. Esses neumas inicialmente eram não diastemáticos”, completa Aria. A notação não diastemática não deixava clara qual era a altura da nota: os documentos registravam o texto — cujo tema, na época, era predominantemente religioso — e alguns sinais e símbolos, que davam a entender os contornos melódicos em que a peça deveria ser cantada, mas não tinha notas, o que impossibilita o entendimento completo de como essas peças eram, de fato, compostas e tocadas.

A pluralidade musical da Idade Média 

Em suas redes sociais, Aria Rita divulga uma noção diferente do que era a arte na Idade Média. Com vídeos informativos e divertidos, ela explica que há uma grande diversidade nas composições, de acordo com o período e a localização geográfica. “Coloca-se a Idade Média como um amontoado uniforme de manifestações culturais, quando, na verdade, foi um período de mil anos em mais de um continente, já que abrangeu também o mundo islâmico e eventualmente também o leste e sul asiático.”, disserta a musicista.

Aria Rita é licenciada em Música pela Universidade de Brasília (UnB) e técnica em alaúde pela 
Escola de Música de Brasília. Atualmente faz mestrado em Performance de Alaúde no 
Conservatório de Genebra, na Suíça. [Imagem: Reprodução/Instagram/@ariaritamusic]

Apesar da existência de produções artísticas e musicais nessas outras regiões, o estudo da música antiga concentra-se, principalmente, nas composições europeias, pois não há registros de músicas dos demais locais que datam do período medieval. E, mesmo na Europa, os registros do começo da era medieval, ou seja, a Alta Idade Média, são muito escassos: “O início da música medieval é muito difícil de datar. Claro que a gente vai dizer que a música medieval surge quando a Idade Média começa, porque as pessoas faziam músicas de qualquer forma e isso está registrado em outros tipos de obras textuais.”

Na época, como comenta Aria, não havia a massificação dos produtos culturais e as grandes distâncias, sem as facilidades dos transportes modernos, impossibilitavam que uma nova obra musical fosse rapidamente difundida, tornando-a referência estilística. Por isso, havia uma diversidade muito grande dentro do repertório medieval. 

Rosimary Parra possui bacharelado em Violão e mestrado em Música pelo Instituto de 
Artes da UNESP, além de especialização na área de interpretação violonística e música antiga. [Imagem: Reprodução/RosimaryParra]

A musicista Rosimary Parra, que atua na Divisão de Música de Câmara da Universidade Federal Fluminense (UFF), completa ao informar que, para além da questão do espaço geográfico e a falta de difusão de um padrão das produções, havia também o próprio interesse cotidiano dos indivíduos em criar peças musicais: “As pessoas tocavam! A música e a poesia estavam muito envolvidas no cotidiano das pessoas. O entretenimento era aquilo que você produzia, era a poesia que você falava, a música que você cantava… ”

Música sacra x Música profana

Quando se fala desse período e da história da música no geral, há algumas formas distintas de classificar as produções musicais. Uma das mais conhecidas é a diferenciação entre a música sacra e profana. “Música sacra é aquela feita para situações religiosas e rituais, é o caso da música gregoriana, do canto litúrgico. E a música profana é a não religiosa, que pode ter temáticas religiosas, mas não é necessariamente escrita para um espaço de culto.”, especifica Aria.

Rosimary acrescenta outra característica dessa divisão: a sacra era essencialmente vocal, já a profana era formada de variações de melodia, ou seja, os instrumentos partiam da voz e criavam novos tons.

As composições sacra são conhecidas como cantos gregorianos e tiveram
sua estruturação como gênero musical em meados do século 7, 
com São Gregório Magno. [Imagem: Reprodução/Facebook/ArteSempre]

Aria conta, ainda, sobre uma confusão comum relacionada às Cantigas de Santa Maria — uma coleção de cerca de 427 cantigas trovadoras espanholas que falam dos Milagres de Maria, a Mãe de Cristo. “Muita gente classifica como música sacra, mas na verdade eram cantigas trovadoras. A temática é religiosa, mas eram músicas feitas nos espaços do palácio, nos espaços aristocráticos, que eram os espaços do trovadorismo. Então, na verdade, eram produções profanas”, completa.

Especialistas acreditam que as composições sejam do poeta e trovador galego 
Airas Nunes em parceria com Rei Afonso X, o Sábio. [Imagem: Reprodução/Amazon]

O trovador, como explica a professora Rosimary, era um indivíduo que circulava de uma corte para outra e, às vezes, servia até como um repórter da época: ele difundia notícias através das canções. Essa figura de fato existiu durante a Idade Média e muitos chegaram a escrever canções que integraram livros de tradição trovadoresca em toda a Europa, alguns preservados até hoje. 

Mesmo nesses livros, não há uma forma clara de reproduzir as canções. “Nessas peças cantadas não vem escrito como ela deve ser tocada e por qual instrumento deve ser acompanhada. O instrumento não tinha o papel central como se começa a ter posteriormente”, explica Rosimary.

Para além da discussão sobre músicas produzidas para a igreja ou apenas com temas religiosos, há uma ainda mais acentuada: toda a música medieval era sacra? Na verdade, como explicam Aria e Rosimary, as músicas profanas estavam muito presentes no cotidiano medieval. As pessoas faziam músicas para ouvir enquanto bebiam, para dançar e para diversas outras situações que não fossem de culto. 

O Livro Vermelho de Montserrat, datado desse período histórico, por exemplo, apresenta uma série de canções que eram dançadas. “O livro tem figuras que mostram as danças realizadas por peregrinos durante a peregrinação a Montserrat.”, aponta Rosimary. Montserrat é um local em Barcelona com um monastério onde as pessoas iam para ficar em vigília e, durante esse período, cantavam e dançavam, como registrado nos desenhos.

Canção Stella Splendens, presente no manuscrito iluminado do
Livro Vermelho de Montserrat. [Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons]

Essa ideia da existência única das canções religiosas se sustenta em apenas um fato: muitas das canções profanas não foram registradas em papel, pois a notação musical foi desenvolvida pela igreja e servia a uma função muito específica. “Como as músicas que seriam cantadas precisavam ser sempre as mesmas, houve uma padronização. Antes isso era transmitido em tradição oral, só que é muito difícil garantir que vai ser sempre a mesma melodia em tradição oral. E assim surge a escrita musical medieval — para suprir essa necessidade de registro, de padronização dos cultos cristãos em todo o espaço cristão ocidental”, diz Aria. 

Mesmo assim, como conta Aria Rita, existe um registro significativo, principalmente do final da Idade Média, do período chamado Ars nova, em que houve um florescimento da música profana. É aí, também, que começa a ideia do compositor de canções não religiosas. Muitas vezes, esses músicos eram membros da igreja, mas faziam apenas música profana.

Música em latim x Música em língua vernácula

Outra divisão que costuma ser usada é em relação à língua do texto: a música pode ser em língua latina — comumente o latim — ou em língua vernácula — falada pelo povo no cotidiano.

Aria Rita explica que, apesar de muitas pessoas acreditarem que a música sacra é sempre em latim e a música profana é sempre em língua vernácula, não é bem assim. “Existem casos de música sacra feita para ser cantada nas igrejas em língua vernácula, em catalão, em franciano, em toscano, em provençal. E existe música profana escrita em latim, esse repertório é particularmente feito pelas canções clericais, que surgem no século 12 em Paris“.

As canções clericais, como expõe a musicista, foram fruto de um movimento feito por clérigos — indivíduos membros da igreja, como sacerdotes, padres, bispos, monges —, que tiveram toda a formação musical obrigatória que um clérigo deveria ter: como a missa era cantada, todos os membros da igreja eram ensinados a ler e escrever música. Eles começaram a compor cantigas sobre amor, o cotidiano e vários outros assuntos, sempre em latim. “Daí nasce uma cultura de cantigas populares escritas por pessoas de dentro da igreja sem motivo religioso, algumas inclusive com temáticas bastante sexuais, bastante mundanas, em latim.“ conclui.

A divisão dos estilos musicais medievais no tempo

A periodização de cada textura musical também é objeto de análise. De acordo com Aria, até o século 11 da Idade Média a música foi majoritariamente monofônica (uma única melodia), e os registros são basicamente de música sacra. O desenvolvimento da polifonia (várias melodias) começa no século 12, primeiro também no ambiente sacro. “Esse movimento de música polifônica sacra é chamado de Ars Antiqua, e tem como principal característica ritmos simples e repetitivos.”, comenta.

A música profana entretia multidões em castelos, estalagens e espaços públicos.
[Imagem: Reprodução/Facebook/Culturalizando]

Concomitantemente à Ars Antiqua, existia também um movimento de música monofônica profana, majoritariamente o trovadorismo. “Nas igrejas estava sendo feita música polifônica e, ao mesmo tempo, no meio profano, estava sendo feita monofonia em língua vernácula, em provençal, em francês…”

Após essa fase do início da Idade Média com obras monofônicas sacras, e o período seguinte, de música polifônica sacra e música monofônica profana, surge o Ars Nova, localizado nos últimos dois séculos da música medieval. “É um período em que a gente não encontra mais registro de música monofônica, poucas coisas, só algumas peças instrumentais, algumas danças e uma ou outra canção e cantiga. Então, foi realmente um período de popularização muito grande da música polifônica, principalmente profana”, finaliza Aria Rita.

Muito além do alaúde: instrumentos musicais do período medieval

Durante a Idade Média, o papel dos instrumentos era, majoritariamente, imitar as vozes, assim, encontrar músicas feitas para instrumentos nesse período é dificílimo. Por isso, como cita Aria, em muitos aspectos se considera que a música instrumental de verdade — ainda que existam peças do final da Idade Média (século 15) — é Renascentista e Barroca: “na Idade Média ainda tinha essa ideia de que qualquer instrumento podia tocar qualquer melodia e a melodia ainda era muito cantada, muita voltada para a melodia da voz.”

Os instrumentos de corda tinham destaque no período medieval. 
[Imagem: Reprodução/Facebook/Música&Adoração]

Para definir quais eram os instrumentos mais utilizados na época, os estudiosos do tema utilizam a iconografia: pinturas, iluminuras, estátuas e tudo aquilo que representa um instrumento, até mesmo descrições presentes em tratados teóricos.

Para Aria Rita, o instrumento mais popular de todos na Idade Média seria a viela, que, em comparação com os modernos, se assemelha ao violino, à viola clássica e à rabeca brasileira. “Era um instrumento de arco, geralmente apoiado no braço, no ombro e era muito grande, maior do que um violino e com cordas de tripa, claro.”, detalha.

Além da viela de arco, presente na imagem, outro tipo de viela oriunda da 
Idade Média é a viela de roda. [Imagem: Reprodução/ProDDigital]

A harpa também era muito usada nesse período: a medieval era muito pequena e se colocava no colo, mais semelhante à conhecida harpa celta do que com a harpa de orquestra. Haviam também os instrumentos de cordas palhetadas, que, com exceção da harpa e de instrumentos como saltério, eram parecidos com o violão, como a guitarra medieval, redonda e pequena, e a cítola, um pouco mais losangular. Essa categoria era muito popular e possuía um som muito melódico. 

Uma diferença marcante no uso desses instrumentos na Idade Média, como conta Aria, era a forma de serem tocados: “eles não eram dedilhados, como passou a ser no Renascimento e no Barroco com o alaúde e as guitarras. Eram tocados com palheta, geralmente feitas com pena de aves de rapina ou tiras de osso.”

O alaúde, muito atribuído ao período medieval, não foi tão importante na Europa durante a maior parte desse fragmento histórico. “O alaúde era muito importante no mundo árabe, no mundo islâmico. Na Europa seu uso se expandiu somente no século 13 e ficou mais popular nos séculos 14 e 15. É um instrumento marcante no Renascimento e no início do Barroco, no século 16 e 17.”, pontua Aria. “No imaginário popular, as pessoas confundem muito Idade Média com Renascimento. O que as pessoas imaginam como medieval, muitas vezes não é medieval, é renascentista.”

Na cultura pop, em séries e filmes medievais, o alaúde sempre 
está presente, o que contribui com a ideia popular de sua importância
na Idade Média. [Imagem: Reprodução/Facebook/Musicalidades]

Os principais instrumentos de sopro eram as flautas doces de apito ou transversais de madeira, parecidas com as da atualidade. As percussões, como revela a iconografia da época, tinham um papel central e podem ser resumidas em dois tipos: o primeiro era como um pandeiro grande redondo, o segundo era um modelo de tambor quadrado chamado adufe. Normalmente, diz Aria, os dois eram tocados juntos: “uma pessoa tocava o pandeiro grande redondo, que podia ou não ter platinelas, e a outra o tambor quadrado. Eles tinham papéis específicos, o quadrado geralmente era mais abafado e grave, então ele fazia uma marcação constante. E o redondo era mais agudo e era melhor para fazer melodias rítmicas.”

Segundo a musicista, apesar do papel importante das percussões nas produções medievais, a busca por sua interpretação ainda é recente no estudo da música antiga, pois muitos pesquisadores ficam presos ao conceito da música clássica do século 18 e 19, e é necessário repensar a concepção etnocêntrica da música tradicional ocidental de concerto.

O adufe é um instrumento característico da cultura árabe e até hoje é tocado na 
música tradicional árabe, portuguesa e espanhola. [Imagem: Reprodução/Facebook/TerraMater]

Apesar de terem algumas semelhanças com os atuais, os instrumentos medievais são difíceis de serem tocados. É necessário muito estudo, prática e paciência, como comenta Rosimary: “Tocar alaúde é parecido com tocar violão em muitos aspectos, principalmente a mão esquerda — a mão que faz as melodias e os acordes. Mas na mão direita a técnica do instrumento é completamente diferente, porque ele tem cordas em pares, e há uma técnica completamente diferente para tocar duas cordas juntas ao mesmo tempo.”

Grandes mudanças no modo de fazer música

As contribuições da Idade Média para o cenário musical foram muitas, mas as consideradas mais importantes por estudiosos do tema, como Aria Rita e Rosimary, foram a criação da imprensa por Gutenberg, por volta de 1450, e o desenvolvimento da notação musical

A prensa por tipos móveis, afirma Aria Rita, revolucionou a forma de fazer música no mundo: “Eu diria que toda a cultura e tecnologia do ocidente não seria a mesma coisa se não tivesse sido desenvolvida a imprensa”. 

A prensa de tipos móveis foi inventada pelo alemão Johannes Gutenberg por volta de 1450,
mas a técnica de impressão já existia na China e no Japão com um método diferente
chamado “impressão em bloco”. [Imagem: Reprodução/World History Encyclopedia]

Diferente da criação de Gutenberg, que possibilitou avanços em várias áreas do conhecimento humano, o desenvolvimento da notação mensural abraça com exclusividade os progressos da música. Até sua concepção, a notação musical medieval — hoje chamada de escrita neumática — mostrava apenas o contorno melódico, não possuía ritmo ou altura precisa. Com o passar do tempo, as alturas das notas começaram a ser registradas de forma mais precisa e as linhas de referência para saber quais eram as notas a serem tocadas foram criadas.

Apesar da escrita musical não ter ritmo, a maioria das músicas cantadas possuía esse traço, com exceção do repertório monofônico litúrgico — popularmente chamado de canto gregoriano —, que tinha o ritmo definido pela declamação. As canções de danças, cantigas e música polifônica eram rítmicas, mas não havia como registrar seus ritmos. Aria Rita explica que essa parte das composições ficava subentendida: “As pessoas já conheciam a melodia, só precisavam lembrar das alturas, e o ritmo é um dos elementos mais fáceis de se decorar.”, comenta.

Tabela com a evolução dos neumas ao longo do tempo.
[Imagem: Reprodução/Facebook/FM Escola de Música Fabíula Mugnol]

As canções medievais eram restritas a ritmos muito previsíveis, muito simples e muito repetitivos, principalmente porque a ausência de um sistema de notação mais desenvolvido impossibilitava produções complexas. Somente no final do século 14, já nos últimos anos da Idade Média, o sistema de escrita mensural tornou-se popular. “Esse sistema de notação começa a ter figuras diferentes para diferentes durações de notas, o ritmo é objetivamente escrito. Isso permitiu uma diversidade rítmica muito grande no período da Ars Nova.”, conta Aria Rita.

Com a notação mensural, as composições, como a polifonia profana das elites na Ars Nova, ganham complexidade rítmica e as vozes se tornam ritmicamente independentes. A polirritmia, ou seja, o uso de duas ou mais estruturas rítmicas de forma simultânea, nasce nesse período.

Por que estudar a música da Idade Média?

Ainda que seja uma época muito distante de nós, o estudo da música medieval representa não só uma forma de conhecimento histórico e cultural, mas também fornece um olhar aprofundado sobre como as canções se desenvolveram e se tornaram o que são na contemporaneidade. “É uma forma de entender as coisas do cotidiano que aconteciam e que são muito parecidas com hoje em dia.”, diz Rosimary.

Para Aria Rita, estudar a música antiga possibilita uma percepção sobre a condição humana e condição da cultura que outros tipos de estudos não trazem. “Tocar uma música de um período distante, de uma forma documental, próximo de como realmente era feito na época, é uma das formas mais poderosas de divulgação científica.”, completa a musicista.

Rosimary, que participa do grupo Música Antiga da UFF e toca regularmente em concertos de música antiga, conta que o público fica muito surpreso com as apresentações, pois sempre esperam algo estranho e, no fim, acham muito interessante. “Tem uma riqueza instrumental, timbres diferentes que as pessoas não estão acostumadas a ouvir, as vozes são usadas de uma maneira diferente… os textos surpreendem.”, afirma a professora.

O grupo conta com musicistas especializados em vários instrumentos antigos 
e faz elaboradas apresentações com repertório de música antiga.
[Imagem: Reprodução/Facebook/Música Antiga da UFF]

O trabalho de divulgar a música antiga e desmistificar a ideia de que todas as produções eram envolvidas com o sagrado é contínuo e um caminho é exibir os paralelos com as composições atuais, como faz Aria Rita: “Eu sempre mostro vários exemplos de músicas totalmente taradas, sobre sexo, traição, chifre, sofrência… tudo que você pode imaginar! Tem músicas que realmente parecem sertanejo, parece um funk, pela temática e pela letra.”

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