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Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe: do Rei para os pequenos príncipes e princesas do Brasil

Pelé dá nome ao Instituto de Pesquisa vinculado ao maior hospital pediátrico do Brasil, mas sua influência é mais do que apenas decorativa

A história do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe começa antes mesmo de sua fundação, que foi anunciada em 2005 e concretizada no ano seguinte. O Instituto é o irmão mais novo das Faculdades Pequeno Príncipe e do Hospital Pequeno Príncipe. Para falarmos mais sobre o Instituto que recebe o nome do Rei do futebol, Pelé, precisamos voltar no tempo!

A imagem é em preto e branco e mostra uma construção antiga de dois aindares. Em frente, temos uma espécie de rotatória com algumas vegetações.
As obras do Hospital de Crianças de Curitiba começaram em 1922. [Imagem: Reprodução/ Hospital Pequeno Príncipe]

Onde tudo começou

Atualmente, o Hospital Pequeno Príncipe é considerado o maior hospital pediátrico do Brasil e também foi classificado como um dos melhores do mundo, segundo uma pesquisa feita pela revista norte-americana Newsweek. Com 103 anos de existência, completados em 26 de outubro de 2022, seu início remonta o passado da Cruz Vermelha no estado do Paraná. O Grêmio das Violetas, organização composta por mulheres da elite da época, foi o grande responsável por trazer o movimento Cruz Vermelha à região em 1919, o qual tem caráter mundial e é um dos maiores responsáveis por prestar ajuda humanitária em diversos países. 

A inauguração do Hospital de Crianças de Curitiba em 1930 foi o ponto de partida. Após vários anos de mudanças de gestão e ampliações, um novo prédio foi construído num terreno anexo ao Hospital de Crianças em 1971: o Hospital Pequeno Príncipe. Em 1990, ambos os hospitais passaram a ser administrados pela Associação Hospitalar de Proteção à Infância Dr. Raul Carneiro, o que tornou definitiva a integração sob o nome de Hospital Pequeno Príncipe. 

As Faculdades Pequeno Príncipe, irmãs do meio do Hospital e do Instituto, tomaram forma em 2003 e, inicialmente, seu nome era “Instituto de Ensino Superior Pequeno Príncipe (IESPP)”. Com o decorrer dos anos, as Faculdades conseguiram formar diversos alunos nos cursos de Enfermagem, Biomedicina, Farmácia, Psicologia e Medicina.

A história do Complexo Pequeno Príncipe não está completa sem o integrante mais novo: o Instituto Pelé Pequeno Príncipe.

Da esquerda para a direita: uma mulher ao fundo; uma mulher branca e ruiva sorrindo segurando uma faixa azul (de inauguração); outra mulher ruiva mais jovem segurando a mesma faixa; Pelé, um homem negro cortando a faixa; outro homem negro ao fundo.
Pelé cortando a faixa de inauguração do Instituto Pelé Pequeno Príncipe, única iniciativa do mundo que leva o nome do Rei, em 2006. [Imagem: Reprodução/ Hospital Pequeno Príncipe]

O Instituto

Em 19 de novembro de 1969, Pelé marcou seu milésimo gol e, de quebra, deu seu discurso mais famoso: pediu que a população olhasse para as crianças e vissem seu sofrimento. Essa fala, proferida em um momento tão importante, seguiria com Pelé até o final de sua vida. 

A história do Instituto se mistura à do Pelé em 2005, mas o Rei já sabia da existência da instituição, apresentada a ele cinco anos antes pelo casal de cientistas Nilson Santos e Mara Lúcia Cordeiro. Da parceria entre o artilheiro e os pesquisadores nasceu, em 2006, o Instituto Pelé Pequeno Príncipe, o único projeto social apadrinhado formalmente por Edson Arantes do Nascimento. 

“Essa conexão foi feita através do doutor Bonald Cavalcante de Figueiredo, que hoje é o nosso diretor científico do Instituto. Ele apresentou o casal e o Pelé para a diretoria do Pequeno Príncipe e, com isso, em 2005, foi dado início ao Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe”, explica Carolina Prando, diretora de Medicina Translacional do Instituto e médica imunologista. 

Com seu nome, muitas iniciativas foram lançadas para arrecadar dinheiro ao Instituto. O Projeto Medalha, lançado em 2007, foi a primeira ação do Programa Gols Pela Vida. Foram 1.283 moedas – o número de gols feitos pelo Rei, mesmo que ainda seja objeto de contestações – criadas e emitidas pela Casa da Moeda do Brasil, em ouro, prata e bronze. A meta era arrecadar R$ 5,5 milhões após a venda total, porém, até o ano passado, ainda restavam algumas moedas. Todo o dinheiro captado é revertido para a instituição.

Tweet de Pelé a respeito da quantidade de gols feitos durante a sua vida e que deram origem às moedas utilizadas na arrecadação de fundos para o instituto.
[Fonte: Reprodução/ Twitter @Pele]

O Gala Pequeno Príncipe é outra iniciativa que visa arrecadar fundos para investir em pesquisas, melhorar as estruturas e aprimorar as atividades do instituto.  Em 2020, R$ 1,4 milhão foi doado, o que tornou possível um investimento de quase R$ 600 mil para medicamentos de alto custo para tratamento de câncer e doenças raras, especialidade do Hospital. Até o momento, R$ 4,9 milhões já foram arrecadados por meio do Gala

As diversas iniciativas que levaram e ainda levam o nome do Rei, assim como o apoio de outras personalidades, dentro e fora do futebol, não são as únicas contribuições que essa parceria trouxe ao Instituto, ao Hospital e a seus residentes. A honra e alegria de ter o maior jogador de todos os tempos andando pelos corredores e surpreendendo as crianças talvez seja o maior ato de Pelé. 

“Pense, você está lá no meio de um hospital no estado do Paraná, em Curitiba, e, de repente, vê uma pessoa passando pelo corredor e você, com oito, nove anos de idade, reconhece que ele é o Pelé. As crianças pequenininhas que não tiveram a oportunidade de ver o Pelé jogando, de viver tudo aquilo que as pessoas puderam vivenciar da época do Pelé jogando, mesmo ele não jogando mais, elas reconheciam que era o Pelé que estava passando no corredor. Era muito bonito de ver, muito especial mesmo”, diz a médica.

Durante os anos, Pelé continuou a visitar e a manter contato com o instituto. Em 2017, participou de um Talk Show com leilão de peças exclusivas e autografadas pertencentes ao acervo do Programa Gols pela Vida. Toda a arrecadação foi convertida para o Pequeno Príncipe. Sua última visita foi em 2019, já debilitado por conta de sua doença e, nos anos seguintes, impossibilitado de ir em razão da pandemia de COVID-19.

Uma mulher com máscara azul clara e óculos esta usando um jaleco e segura, com luva, um frasco contendo sangue etiquetado para ser analisado.
O Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe é um dos Hubs de sequenciamento da COVID-19 do consórcio COVID Human Genetic Effort. [Imagem: Reprodução/ Instituto Pelé Pequeno Príncipe]

Predisposição genética para o desenvolvimento de formas graves da COVID-19

A importância do Rei, tanto o Pelé quanto a pessoa Edson Arantes do Nascimento, foi um dos pilares responsáveis pelo sucesso do instituto. Atualmente, mais de 100 pesquisas estão sendo realizadas pelos integrantes do instituto e o Laboratório contará mais sobre a pesquisa que conta com a participação de Carolina Prando.

O estudo faz parte do projeto mundial COVID Human Genetic Effort e a doutora Carolina, além de diretora de Medicina Translacional do Instituto, é responsável pela diretoria internacional e coordenação de centros brasileiros do consórcio. Mas, antes de mostrar as conclusões do trabalho, você sabe o que é a Medicina Translacional?

A Medicina Translacional é responsável pela comunicação entre a bancada e o médico que está atendendo: “A medicina translacional tem por objetivo construir uma ponte entre esses dois extremos, a pesquisa básica e a pesquisa aplicada: tanto trazendo coisas que o pesquisador descobre lá na bancada e que a gente identifica como potenciais para serem levados para beira do leito, quanto identificando problemas do ponto de vista clínico que podem ser resolvidos com ajuda da pesquisa básica”, explica Carolina. Vários profissionais do Instituto atuam nessa área, desde biólogos até físicos. Como mostrado, esse setor é relevante para as pesquisas, como o estudo do COVID-19 Human Genetic Effort, já que seus resultados podem ser usados no dia a dia dos médicos.

A pesquisa foi responsável por notar a presença de autoanticorpos, ou seja, anticorpos que combatem as próprias células de defesa do organismo, em casos mais graves de COVID-19, sobretudo na parcela com idade mais avançada. “Esse consórcio chegou a conclusão de que existe um percentual, até o momento em torno de 3,5%, de pessoas com COVID-19 grave que carregam no seu DNA uma alteração que faz com que não ocorra a produção de interferon tipo 1”, diz a doutora.

Os interferons tipo 1 (IFN 1) são glicoproteínas responsáveis por aumentar e ativar imediatamente os anticorpos, ou seja, são os “soldados da linha de frente” da defesa do organismo. Pessoas que produzem autoanticorpos cuja ação é atacar os IFN 1 ou não produzem essas proteínas estão mais suscetíveis a desenvolverem COVID-19 grave. Segundo o estudo, 20% dos casos letais de COVID-19 têm a presença de autoanticorpos que afetam os IFN 1.

Agora, com a produção de vacinas e campanhas de imunização contra a COVID-19, o estudo assume uma nova linha, porém, sem deixar os autoanticorpos para trás: “A gente teve uma outra fase em que estávamos investigando pessoas que, apesar de terem tomado a vacina, desenvolveram COVID grave. Isso porque, por exemplo, se eu tenho um defeito genético que faz com que eu não produza interferon tipo 1, mesmo tomando a vacina eu continuo tendo a falha na produção, ainda assim eu continuo suscetível a ter um quadro grave”, comenta Carolina.

A origem dos autoanticorpos ainda não tem um padrão genético conhecido, mas a doutora coloca que “o nosso organismo produz anticorpos o tempo todo e em algum momento ele pode produzir anticorpos que, ao invés de combater um vírus ou uma bactéria, acabam agredindo um componente do nosso próprio organismo”.

Legado

Atualmente, o instituto conta com 17 pesquisadores, 39 mestrandos e 34 doutorandos. Possui 7 módulos de pesquisa, os quais são: doenças complexas e oncogenética; estudos epidemiológicos, clínicos e educacionais; imaginologia, proteção radiológica e radioterapia; medicina molecular e bioinformática; microbiologia e doenças infecciosas; neurociências e terapia celular e farmacológica.

Além disso, oferece um programa de mestrado e doutorado, em parceria com as Faculdades Pequeno Príncipe. Sua especialidade, porém, são os casos mais graves e complexos, que demandam investigação. “A gente diz que tá no DNA do Pequeno Príncipe a doença rara”, diz Carolina. 

“Temos famílias em situação de desespero por não saber o que acontece com os filhos deles. Eles vêm procurar o hospital e geralmente são doenças raras, que acabam precisando de exames mais específicos para o diagnóstico.” Dentre as pesquisas desenvolvidas ou em andamento, destaca-se a identificação de crianças com uma variante genética que predispõe a um tipo raro de câncer, o tumor de córtex adrenal. A pesquisa liderada pelo doutor Bonald, atual diretor científico do Instituto, já conseguiu identificar cerca de 180 mil crianças.

Pelé, um homem negro de terno, beija  a mão de uma menina branca loira que está hospitalizada. A criança usa óculos e sorri, feliz.
Pelé se encontra com os pacientes do Instituto em uma de suas visitas. [Imagem: Reprodução/ Instituto Pelé Pequeno Príncipe]

Nessa mesma área, Carolina lembra de outro projeto que “trabalha na busca de marcadores moleculares e de microbioma para prognóstico de evolução de leucemia em crianças que são submetidas ao transplante de medula óssea”. Somado a esses, há trabalhos que buscam entender questões relacionadas ao autismo e ao transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). 

As conquistas e avanços na medicina pediátrica, em especial na busca por tratamentos e curas de doenças raras, devem muito ao Rei. Seu nome foi fundamental para a arrecadação de verba, apoio e notoriedade – que o trabalho por si só da equipe de médicos e pesquisadores merecem – que o Hospital e Instituto Pequeno Príncipe recebem. 

Para Carolina Prando, a importância de Pelé foi, principalmente, “acreditar no potencial da ciência para transformar a vida das crianças. O Instituto de Pesquisa foi uma das maneiras que ele encontrou de realizar esse desejo e, por meio disso, abriu muitas portas. Com o apoio do Pelé, pode-se levar o nome do Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe para vários outros segmentos da sociedade”.

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