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Museu do Ipiranga reabre para o público geral após quase uma década fechado

A visitação volta nesta quinta-feira, 8 de setembro, em comemoração ao bicentenário da independência do Brasil.

O Museu Paulista da Universidade de São Paulo (USP), mais conhecido como Museu do Ipiranga ou Museu da Independência, ficou fechado por nove anos. Mesmo com as obras incompletas, o local reabre neste dia 8 de setembro para o público geral. A entrada é gratuita até novembro em uma iniciativa para atrair visitantes. No casarão paulista estarão disponíveis 11 exposições de longa duração e uma temporária.

Os motivos do fechamento do Museu foram os graves problemas na estrutura, como rachaduras e umidade nas paredes. Mas, depois de reformas, restaurações e anexos construídos junto ao museu original, o Novo Museu, como foi denominado após os processos realizados, reabre com o dobro do tamanho original. O patrimônio cultural inicia um novo capítulo no ano comemorativo do bicentenário da independência do país, marcado por uma conjuntura de reflexão política e social.


As obras de arte

A equipe responsável pelo restauro foi liderada pela especialista Yara Petrella e, com o estudo e análise das obras e com os materiais necessários, entregou o produto principal, exposto no Salão Nobre do Museu. As obras restauradas mais notáveis foram: o quadro Desembarque de Pedro Álvares Cabral (Oscar Pereira da Silva, 1900) e, principalmente, o quadro Independência ou Morte (Pedro Américo, 1888), que é a mais famosa da coleção paulista. 

O quadro Independência ou Morte, de Pedro Américo, possui cerca de sete metros e meio de comprimento e está localizado no Salão Nobre do Museu do Ipiranga. [Imagem: Arquivo Pessoal/ Alessandra Ueno]

Trazido de Florença para o Brasil, o quadro pintado por Pedro Américo por volta do ano de 1888 é uma das mais marcantes representações artísticas de como o Brasil daquela época foi imaginado. Apesar do pouco comprometimento com a transposição fiel da veracidade na tela, o autor revelou sua intenção em uma célebre frase: “A realidade inspira, e não escraviza o pintor”.
Nas escadas que dão acesso ao Salão, é possível encontrar diversas pinturas que estão no teto e nas paredes que envolvem os degraus. No centro, há o logo da USP e uma estátua de D. Pedro I. No térreo, estão as salas novas — como a de Laboratório de História, a sala que contém a maquete do prédio e a sala com itens de cultura material.

Sendo o acesso principal para os andares superiores, a escadaria do Museu do Ipiranga possui esculturas que representam os rios brasileiros como ornamento. [Imagem: Arquivo Pessoal/ Alessandra Ueno]

A integrante do corpo docente da curadoria do Museu professora Solange Ferraz de Lima comenta: “As pessoas pensam que o Museu é feito somente de área expositiva”. Ela explica que a seleção das exposições e as pesquisas também são partes importantes da atração.


O papel da memória
A educadora da equipe do Museu Denise Peixoto ressalta a importância da análise das exposições, já que é fundamental promover uma reflexão sobre as figuras históricas e a mensagem deixada aos visitantes. Ela também destaca que, como o Museu Paulista ficou fechado durante nove anos, a nova geração e a mais antiga criarão ali memórias inéditas e refletirão sobre as já existentes: “É importante valorizar essa experiência de ir ao museu. Agora, depois de tanto tempo, vai ser um encontro e um reencontro: os que estão chegando e convivendo com o museu dentro de uma nova perspectiva, e aqueles que no passado já vieram e vão poder revisitar suas lembranças e pensá-las criticamente.”

A paisagem em frente ao museu é o jardim francês. [Imagem: Arquivo Pessoal/ Alessandra Ueno]


Em entrevista ao Sala33, a coordenadora de comunicação do Novo Museu do Ipiranga Maria Eugênia de Menezes comenta sobre a importância do local para os brasileiros: “O Museu é muito querido pela população. Ele está muito forte na memória afetiva”.
Maria também expõe que as novas exposições estão divididas em dois eixos: um foi pensado “para entender a sociedade”, e conta a história do passado paulista e brasileiro no geral, e o outro foi feito “para entender o Museu”, uma vez que trata da história da construção e o que está por trás das cenas das exposições. 

As inspirações na construção do Museu 

Em 1922, “quem comemorava o centenário da Independência eram os republicanos” , aponta Peixoto ao salientar a necessidade de analisar o contexto da proclamação da República no Brasil. Com o apogeu da exportação de café brasileiro e das construções de ferrovias para o escoamento da produção, na época, o Museu visava ostentar a hegemonia político-econômica de São Paulo. Esse domínio era impulsionado pela concentração da produção artística no estado, a exemplo da Semana de Arte Moderna de 1922.

Assim como a Independência, a vanguarda estética do evento desmembrou a arte nacional das potências europeias e manifestou uma renovação social da imagem do país para a população brasileira. Desde então, a visão decolonial permanece como elemento fundamental no esforço do Museu para oferecer chaves de interpretação ao público. De acordo com a educadora, as salas de exposição trazem documentos históricos e pictóricos “passíveis de análise crítica e redimensionamento”.

Visão do primeiro andar do Museu com a estátua de D. Pedro I ao fundo. [Imagem: Arquivo Pessoal/ Tulio Shiraishi]

O legado do Bicentenário

Dois séculos após sua emancipação administrativa da monarquia portuguesa, o Brasil vê sua democracia ameaçada por forças políticas. Na visão de Amâncio de Oliveira, vice-diretor do Museu do Ipiranga, “é o momento de reencontrarmos nossa história e entendermos nosso papel no mundo”. É por meio das obras e exposições do museu, um equipamento cultural de aprendizado, que o legado de revisão da História e da sociedade brasileira entra em pauta.
Na comemoração do Bicentenário, o Museu incita a reflexão não somente das origens históricas do Brasil, como também da participação pública na construção do futuro do país. Para Oliveira, “vai ser muito discutido que país queremos à luz do país que partimos, enquanto nação independente há 200 anos.”

[Imagem de capa: Arquivo Pessoal/ Alessandra Ueno]

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