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Museu da Língua Portuguesa: o renascer das cinzas de nossa fênix cultural

Seis anos após o incêndio que fechou as portas do museu, a Jornalismo Júnior foi observar como estava a recuperação após a tragédia

Uma tragédia para a cultura brasileira e para a própria língua portuguesa ocorreu no dia 21 de dezembro de 2015, quando o Museu da Língua Portuguesa foi atingido por um incêndio de grandes proporções, o que resultou no fechamento de suas portas. Cinco anos depois do ocorrido, o museu foi reinaugurado no dia 31 de julho de 2021, e prometeu uma nova experiência completamente imersiva e com atrações inéditas ao museu. A Jornalismo Júnior foi conferir se o museu continua entregando o que propõe quase um ano após sua reabertura.

Localizado na estação Luz do metrô, no centro da cidade de São Paulo, o museu é famoso por ser dedicado exclusivamente a um idioma e por possuir um grande acervo material. Com experiências que celebram a língua portuguesa, é possível visitá-lo de terça-feira a domingo, das 9h às 16h30, com entrada gratuita aos sábados.

Além das exposições fixas sobre a língua portuguesa, o museu também conta com exposições temporárias com temas que variam. Durante a visita da Jornalismo Júnior, estava ocorrendo a exposição Sonhei em português!”, que estreou no dia 12 de novembro de 2021 e ficou em cartaz até o dia 12 de junho de 2022. Nela, o visitante tinha a oportunidade de conhecer um pouco sobre a questão da imigração no Brasil e como todos os povos que vivem no país são unidos por um elemento em comum: a língua.

 

Respeito como língua universal 

 

Uma garota entre postes amarelos.
Uma das primeiras experiências que o visitante tem no Museu da Língua Portuguesa é a oportunidade de ouvir diversos nativos falando as suas línguas de origens em colunas tecnológicas [Imagem: Reprodução/Felipe Velames]

A palavra que melhor define o Museu da Língua Portuguesa e a sua visita é “respeito”, porque é evidente o apreço e o amor que o museu possui por todas as línguas existentes no mundo, em especial, pela língua portuguesa. Esse respeito pelas linguagens mundiais evidencia-se logo na primeira sala da exposição fixa do museu, a chamada “Línguas do Mundo”. Na sala, encontram-se 23 mastros com áudios de diferentes idiomas do mundo, entre eles, o inglês, o francês, o russo, o mandarim, e o guaraní-mbyá. Cada uma das colunas possui pequenos alto-falantes que expõe saudações, poemas, trechos de textos e canções em gravações feitas pelos nativos das línguas que compõem a sala.

A importância do respeito para o museu também pode ser observada na sala conhecida como “Falares”, em que há nove grandes telas verticais com fones de ouvido para o visitante perceber as diferentes formas de falar do povo brasileiro e a diversidade do português. Novamente, o respeito pode ser observado na forma como diferentes grupos do Brasil — entre eles crianças, professores e líderes sociais — possuem seu lugar de fala na sala e conseguem transmitir suas ideias para os visitantes.

 

A Língua Portuguesa como protagonista

 

Uma carta em um vidro iluminado.
Fac-símile de 2020 da Carta de Pero Vaz de Caminha enviada ao rei de Portugal Dom Manuel I em 1500 [Imagem: Reprodução/Felipe Velames]

Voltando à grande protagonista do Museu da Língua Portuguesa, um dos destaques mais interessantes e divertidos que a língua portuguesa recebe no museu é o mural chamado “O Português do Brasil”. Através dele, pode-se observar a origem e evolução do português brasilero através de textos explicativos e bastantes documentos, desde a sua origem no latim vulgar até a atualidade com as gírias da internet. Mais uma vez, o respeito, pode ser observado quando a mostra se preocupa em narrar o processo evolutivo que a língua portuguesa passou ao longo do tempo, dando destaque para a influência que as falas dos imigrantes europeus e, principalmente, da população indígena e da afrodescendente tiveram na construção do chamado “português do Brasil”.

Além disso, muito mais do que apresentar a evolução da língua portuguesa através de apenas textos, o mural se preocupa em demonstrá-la de modo prático através das artes e da literatura, contando com um acervo riquíssimo de documentos e imagens famosas. Um verdadeiro deleite para os amantes de história, o museu conta em seu acervo com uma reprodução da carta de Pero Vaz de Caminha; uma cópia de Marília de Dirceu (1792) do Tomás Antônio Gonzaga; capas dos livros Pau-Brasil (1925) e Paulicéia Desvairada (1922) de Oswald e Mário de Andrade, respectivamente; além de um recorte do quadro Operários de Tarsila do Amaral, entre muitos outros exemplos que valem a pena conferir ao vivo. 

 

Uma televisão vermelha no Museu da Língua Portuguesa.
Trecho do programa “A Buzina do Chacrinha” transmitido em televisão adaptada da década de 1970 [Imagem: Reprodução/Felipe Velames]

No entanto, o rico acervo do Museu da Língua Portuguesa não se resume a documentos escritos que representam a língua portuguesa ao longo da História Ele também conta com um amplo acervo de objetos do campo do audiovisual para representar essa evolução, como um aparelho radiofônico da década de 1930 e uma televisão de tubo da década de 1970, a qual, na exposição, transmite um trecho do programa A Buzina do Chacrinha da mesma época. Isso demonstra como o Museu da Língua Portuguesa é muito mais do que somente um rico acervo sobre o nosso idioma materno; ele é um rico acervo sobre a cultura brasileira e sobre quem é o povo brasileiro. 

 

A tecnologia aliada à educação

Cumprindo as suas promessas feitas em 2021, o museu consegue atingir sua meta de trazer imersão e uma experiência completamente inédita através do uso da tecnologia, seja com telas interativas para os visitantes poderem mexer ou imagens projetadas na parede. Um exemplo da concretização dessas ideias ocorre na chamada “Rua da Língua”, um longo corredor representando a linha de trem da estação da Luz — alguns andares abaixo — com ilustrações, grafites, textos, poemas e até mesmo vídeos e músicas sendo representados nas paredes da galeria. Essa imersão permite que se brinque com as projeções e se admire imagens reais e futuristas nas paredes, com poemas e grafites que aparecem e somem, como uma língua viva que sempre se reinventa. 

 

Um projetor de luz roxa com uma mão acima.
Uma das experiências mais divertidas do museu é “brincar” com as palavras na mesa interativa do “Beco das Palavras” [Imagem: Reprodução/Felipe Velames]

Mas o uso da tecnologia não se restringe somente às paredes do museu, ela também pode ser observada em mesas digitais e tablets espalhadas ao longo das salas que unem uma experiência imersiva e interativa com uma forma de educar e aprender sobre a língua portuguesa. Uma das experiências mais divertidas ocorre no chamado “Beco das Palavras” em que os visitantes se vêem na frente de uma grande mesa digital com sílabas distribuídas de maneira aleatória ao redor da tela. O grande objetivo da brincadeira é juntar diferentes partes para formar uma palavra nova. Quando isso acontece, um vídeo ocupa toda a tela e explica o significado e origem da palavra recém formada, o que mostra como a tecnologia pode educar as pessoas de uma maneira lúdica e divertida. 

Já na sala “Palavras Cruzadas”, há oito tablets com palavras brasileiras de origem em um outro idioma, como o francês, o tupi e as línguas africanas. Então, os visitantes têm a oportunidade de aprenderem a falar uma palavra em sua língua de origem, como “buffet” ou “abajur“. 

 

“Sonhei em Português”, uma exposição sobre a imigração

 

Uma instalação com letras marrons penduradas em fios de nailon.
Um dos pontos de destaque da nova exposição é uma grande vitrine com letras de vários alfabetos flutuando na frente dos visitantes [Imagem: Reprodução/Felipe Velames]

O Museu da Língua Portuguesa abrigou até o dia 12 de junho a exposição temporária “Sonhei em Português”, com curadoria de Isa Grinspum Ferraz, que ocorreu no primeiro andar do museu e abordou a questão da imigração contemporânea através de um fator comum que une todos os povos migratórios: a língua. 

Novamente, logo na entrada da exposição se percebe como o respeito é algo vital para o museu da Língua Portuguesa, já que a primeira coisa que o visitante olha ao entrar na sala conhecida como “Deslocamentos Cruzados”  é uma grande vitrine em que “flutuam” letras de diferentes alfabetos, como árabe, hebraico, chinês, o que simboliza como cada uma das línguas têm igual relevância no museu, não havendo nenhuma superior a outra. Além de um grande respeito pela questão migratória, o tema também é abordado com uma forte sensibilidade através de inúmeros relatos de migrantes que chegaram ao Brasil, seja em um divertido e lúdico jogo de tabuleiro em que cada peão representa um migrante de verdade ou nos painéis audiovisuais com migrantes contando sua história de origem. 

 

Luzes de led presas a uma estrutura de madeira marrom no primeiro andar do museu.
Instalação “A Travessia” que representa as viagens marítimas que os migrantes realizam [Imagem: Reprodução/Felipe Velames]

Assim como nas instalações nos andares acima, a exposição possui um acervo material riquíssimo, com 12 caixas preenchidas por objetos que representam a vivência de pessoas migratórias na cidade de São Paulo e a importância da língua para elas — é a chamada “Para esta cidade”. Entre alguns objetos de destaque, há uma caixa composta por currículos que representa como a língua era uma espécie de chave para os migrantes; uma caixa composta por bilhetes carinhosos escritos em português que é um símbolo de como a língua é uma demonstração de carinho e saudades aos entes queridos e, ainda, uma caixa composta somente por comidas típicas do local de origem dos migrantes. 

Também, o uso da tecnologia na exposição está em destaque, não presente somente nos mapas e gráficos sobre migração projetados nas paredes, mas em uma grande instalação inédita que ocupa quase metade do andar. A instalação é chamada de “A Travessia” é uma obra cinética composta de luzes, sons e movimentos robóticos que representam a travessia do mar que tantos migrantes são obrigados a realizar diariamente para conseguirem chegar a um local seguro.

 

Uma vista com prédios do centro de São Paulo.
Há a oportunidade de observar a praça do luz do alto da sacada no terceiro andar do museu. [Imagem: Reprodução/Felipe Velames]

Valeu a pena? 

A experiência no museu da Língua Portuguesa foge de uma simples exposição de arte ou de objetos de um acervo histórico; é uma grande experiência sensorial que se utiliza de tecnologia e objetos materiais para ensinar sobre as diversas línguas do mundo e demonstrar um profundo respeito sobre a própria cultura brasileira como um todo. 

 

Imagem de capa: [Divulgação/Museu da Língua Portuguesa]

 

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