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Dia 09 | 26ª Bienal do Livro: ídolos da infância e dos livros de romance

No último dia da Bienal do Livro, o público pôde encontrar a Xuxa Meneghel e conversar com escritores famosos de romance, como Jenna Evans Welch e Ali Hazelwood

Após uma pausa em decorrência da pandemia da COVID-19, a 26ª Bienal Internacional do Livro retorna a São Paulo com grande expectativa do público. Sediada na Expo Center Norte, o evento reuniu editoras e palestrantes diversos, e proporcionou aos visitantes uma experiência repleta de debates sobre o universo literário. Confira a cobertura feita pela Jornalismo Júnior das palestras reunidas no dia 10 de julho de 2022.

 

Encontro com Iberê e Mari, do canal Manual do Mundo

O lançamento do novo livro da coleção Grandes Livros, O Grande Livro de Matemática (Sextante, 2022), trouxe Iberê Thenório e Mariana Fulfaro para a 26ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Criadores do canal do YouTube Manual do Mundo, o casal acumula mais de 16 milhões de inscritos na plataforma digital e a palestra, que ocorreu na manhã do dia 10, estava cheia.

 

O livro novo é azul com um cientista vestido de amarelo na parte inferior.
Capa do livro O Grande Livro de Matemática. [Imagem: Reprodução/ Sextante]

Iberê e Mari contaram sobre como foi o retorno aos eventos presenciais, sendo o primeiro realizado no dia 9 de julho, em Campinas, devido ao lançamento do O Grande Livro de Matemática. “A gente fica em frente a câmera, sem encontrar com ninguém. Os eventos alimentam a gente, é inspirador para fazer novos vídeos”, comenta Mari. 

A relação do canal com os livros vem desde a época da coleção Manual do Escoteiro Mirim, presente na série de livros ilustrados com personagens da Disney. Ela serviu de inspiração para Iberê e ensinava diversas coisas, desde código morse à invenção da comunicação. “Em um determinado momento, o Manual do Mundo percebeu que tinham coisas que não eram tão legais de serem explicadas em vídeo, mas que, em livro, ficavam bem bacanas”, pontua Iberê. 

Na palestra, foi explicado como funcionou a publicação da obra, livro estrangeiro que, por meio da editora Sextante, chegou ao Brasil com a marca Manual do Mundo. Iberê conta que ele leu o livro, no idioma original, conversou com a Sextante para saber se era possível fechar um contrato com a outra editora e, depois, os trabalhos de tradução e revisão começaram. Ele conta que ler o texto traduzido foi muito legal: “Eu fiquei feliz lendo porque eu comecei a lembrar de coisas que eu sabia, mas não lembrava o nome. Para mim, o nome do livro deveria ser ‘A matemática que todo mundo deveria saber’ ”.

Iberê também comentou sobre seus vídeos mais conhecidos: as bolas perfeitas e o submarino.

 

O entrevistado, da esquerda para a direita, Mari, e Iberê.
Mari e Iberê no espaço Arena Cultural da 26ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo. [Imagem: Arquivo Pessoal/ Alessandra Ueno]
Ao final das perguntas preparadas pelo mediador, foi aberto o microfone para o público. As crianças foram a maioria a levantar a mão. Tivemos desde perguntas sobre como foi para a Mari visitar a exposição itinerante da Estação Espacial Internacional em Boston, feita pela pequena Alícia — que inclusive estava de moletom com a estampa da NASA, às mais pessoais, envolvendo o vídeo preferido deles e em qual eles mais se divertiram, feita pelo Davi — sendo respondida por Iberê e Mari com a série Boravê, já que é muito difícil escolher só um! Laura e Helô ainda deixaram uma pergunta para um próximo Iberê responde: “Quando a água-viva morre, ela vira só ‘água’ ou uma ‘água-viva morta’?” 

 

Plateia lotada para ver o Manual do Mundo na Bienal do Livro.
Diversas famílias acompanharam concentradas a palestra do casal Iberê Thenório e Mariana Fulfaro. [Imagem: Arquivo Pessoal/ Alessandra Ueno]

 

O público aplaudiu e se despediu do casal, que se dirigiu para a sessão de autógrafos. Embora seja um “tchau”, é notável que o conteúdo do Manual do Mundo vai ficar em cada criança presente, as quais agradeceram diversas vezes Iberê e Mari, e também nos pais, que veem a importância da ciência na infância e ao longo da vida.

 

Encontro com Nathan Harris 

O último dia de Bienal recebeu, também, o escritor norte-americano, Nathan Harris. Seu primeiro livro sobre o processo pós escravidão nos Estados Unidos, A doçura da água (Grupo Novo Século, 2022), chegou na lista de livros da apresentadora Oprah e do ex-presidente norte-americano Barack Obama, além de ganhar alguns prêmios literários, como o First Novel Prize do Center For Fiction e a Medalha Carnegie de Excelência 2022. 

 

Nesse encontro, Nathan Harris contou como foi o processo de criação do seu livro, o qual aborda temáticas raciais e o preconceito com o amor homoafetivo no século 19, e que notou relações sociais similares entre os estadunidenses e os brasileiros. O escritor contou um pouco de como está sendo sua experiência no Brasil, e afirmou que existem muitos leitores do seu livro no país, pois o racismo é uma questão inescapável nas conversas norte-americanas e nas brasileiras. 

 

A tradutora e Natan Harris no palco da Bienal.
Nathan Harris, por não falar português, se comunicou com o público da Arena Cultural com a ajuda de uma tradutora. [Imagem: Reprodução/Julia Magalhães]

 

 

 

Oescritor relata que não esperava que personalidades como Oprah e Obama o notassem, e pontua como isso ajudou a sua obra a fazer sucesso. Essa repercussão fez com que ele tivesse vontade de fazer um segundo livro, o qual já está em processo de escrita. O autor conta que agora está um pouco nervoso, pois outras pessoas esperam mais dele após a sua primeira produção. Ele relatou que, quando fica com receio das críticas, relê seus autores favoritos para inspirá-lo.

 

Nathan, na elaboração de seu primeiro livro, fez uma pesquisa sobre escravizados libertos, porque queria honrar as memórias deles na sua ficção. Durante o encontro, o escritor relata que assuntos como racismo e homofobia precisam ser debatidos, e é necessário haver mais livros sobre racismo, sobre orientação sexual e sobre questões de classe.  Nathan finalizou o encontro dizendo que qualquer um pode fazer, mesmo que um pouco, algo para mudar o mundo. Ele não é ativista, mas espera que seu romance ajude nessa mudança. 

 

Encontro com Jenna Evans Welch 

Jenna Evans Welch foi, levando em consideração o público que a aguardava , uma das escritoras mais esperadas da Bienal. Ela é autora da trilogia Amor e Livros, composta por Amor e Gelato (Editora Intrínseca, 2016), Amor e Sorte (Editora Intrínseca, 2018) e Amor e Azeitonas (Editora Intrínseca, 2021). 

 

Durante o evento, a escritora relatou que começou a escrever assim que foi alfabetizada, com sete anos de idade. Jenna, já mais velha, ia às bibliotecas e ficava desapontada por não ter livros que ela quisesse ler para a sua idade. Assim, disse à mãe que um dia iria escrever histórias que ela gostaria de ler. O fato de ter a leitura como um hábito em sua vida, a deixou muito exigente com relação à escrita. Consequentemente, ela demorou cerca de 10 anos para escrever Amor e Gelato, desde que teve a ideia inicial da história do livro. Jenna aconselha os jovens escritores a escreverem muito para melhorarem, e relatou que, até hoje, não alcançou a escrita que deseja. 

 

Na imagem, há diversos presentes que Jenna ganhou dos fãs brasileiros, que fazem referência aos seus livros.
Jenna postou em suas redes sociais os presentes que recebeu dos fãs brasileiros [Imagem: Reprodução/Instagram/@jennaevanswelch]

 

 

 

A autora afirmou, ainda, que, quando começou a escrever o primeiro livro, achou que seria só um, mas, ao longo da escrita, sentiu a necessidade de fazer mais obras sobre essa história. Assim, enquanto escrevia Amor e Gelato, ela já estava pensando onde certos personagens se encaixariam em suas próximas produções. Inclusive, Jenna contou que terminou um livro no voo vindo para o Brasil, seu primeiro romance fora da trilogia Amor e Livros. Uma curiosidade dessa nova criação é que agora terão os pontos de vista de dois personagens —um menino e uma menina. 

 

Jenna falou um pouco sobre o mais novo filme da Netflix inspirado na sua primeira produção, Amor e Gelato, dizendo que vendeu os direitos do livro há um ano e, portanto, não teve qualquer participação no filme. A autora contou que já imaginava que os fãs não iriam gostar quando assistissem a produção pela primeira vez, mas elogiou os atores. 

 

Nesse encontro com o público brasileiro, Jenna contou como gosta dos fãs do Brasil por serem muito entusiasmados, afirmando que tem a possibilidade de uma das histórias dos seus livros se passarem no país.

 

Encontro com Xuxa Meneghel 

Neste quarto encontro, a “rainha dos baixinhos”, como é comumente conhecida pelo público, lotou o espaço da Arena Cultural com fãs de todas as idades. Xuxa veio para a 26ª Bienal do Livro para falar sobre o seu novo livro infantil: Mimi, a vaquinha que não queria virar comida (Globinho, 2022). Ela deseja conscientizar as crianças sobre as práticas do veganismo com essa sua nova produção. A apresentadora começou o encontro contando a sua relação com a vaca Mimi, que existiu na vida real, mas foi morta para ser usada como alimento, tornando-se uma inspiração para a escrita do livro. Por conta dessas experiências, a gaúcha decidiu aderir ao veganismo há 4 anos. 

 

No evento, Xuxa defendeu o veganismo e trouxe algumas informações de como esse modo de vida pode ajudar o mundo. Ela recomendou para as pessoas assistirem documentários sobre os veganos, pois foi assim que muitos dos seus familiares acataram o estilo de vida. Além disso, pediu que as pessoas tentem receitas veganas na hora de escolher uma refeição. A apresentadora afirmou, também,  que a maioria das comidas que comemos são veganas, como arroz, feijão e alface, e que não é caro manter essa prática. 

 

No telão, há Xuxa no palco com seu cachorro no colo.
Xuxa trouxe seu cachorrinho e a sua família para assistirem seu encontro nesse último dia de Bienal  [Imagem: Reprodução/Julia Magalhães]

Xuxa também apresentou algumas vantagens das pessoas se tornarem veganas, como o aumento da virilidade masculina e a melhora da vida sexual. A rainha dos baixinhos também diz que um dos homens mais fortes do mundo é vegano, o que desmente o mito de que os seres humanos necessitam de carne animal para se fortalecerem. 

 

A apresentadora conta um pouco sobre suas produções futuras e alguns dados dos seus outros livros. Ela também fala da sua época como apresentadora, e como ela se sentia igual as crianças quando estava com elas, e não como uma mulher adulta. Xuxa finaliza respondendo algumas curiosidades sobre ela, como o fato do cantor Michael Jackson querer ter um filho com ela, e agradece o carinho dos fãs. 

 

Encontro com Ali Hazelwood

Após uma conversa com uma celebridade nacional, a Bienal trouxe a artista italiana Ali Hazelwood, conhecida pelo livro sensação do Tik Tok A Hipótese de Amor (Editora Arqueiro, 2022), para realizar um encontro com seus fãs. Mediado por Frini Georgakopoulos, o debate com a escritora foi marcado por conversas sobre fanfics.

 

A  autora iniciou a conversa abordando a influência da fanfiction em suas histórias, já que ela própria começou escrevendo histórias sobre casais fictícios e improváveis de personagens reais. Tal prática, assim como utilizar tropes (clichês), tornou-se comum para a autora, desenvolvendo histórias envolvendo  fake dating e enemies to lovers.  Além disso, a autora também abordou o preconceito que o universo das fanfic, principalmente as de romance, sofre na comunidade literária, assim como o sofrido pelos seus próprios fãs por gostarem de um livro que é uma fanfic de Star Wars.

 

Ali Hazelwood, sua tradutora e a mediadora no palco da Arena.
A autora de A Hipótese do Amor, ao lado da mediadora Frini Georgakopoulos e da tradutora, encantou o público ao abordar seu amor pelo romance e pelas fanfics.  [Imagem: Reprodução/Felipe Velames]

Em seguida, ela também comentou do fato dela ter passado a sua vida inteira estudando e como isso influenciou em suas obras, já que o ambiente acadêmico é um dos únicos que ela conhece e, por isso, escreve histórias de amor que se passam nesse lugar. Ainda no quesito estudos, Ali também falou sobre seu amor pela ciência e como essa fascinação a ajuda na escrita de suas histórias. Não por acaso,  a autora possui um doutorado em neurociência. 

 

Por fim, Ali comentou sobre seu próximo lançamento Love on the Brain (Berkley Books, 2022), ainda sem previsão de lançamento no Brasil, que conta a história de amor de uma garota que trabalha na NASA. 

 

Financiamento Coletivo

Após uma conversa com uma autora internacional, a Bienal apresentou um debate sobre financiamento coletivo, ou crowdfunding, uma espécie de “vaquinha” virtual feita através de doações de fãs para bancar os projetos e a publicação de livros de um autor independente. Para realizar esse diálogo, foram convidados ao palco: Guilherme Dei Svaldi e Karen Soarele, responsáveis pela campanha do Tormenta20 e NerdcastRPG; Daniel Lameira, cofundador da Antofágica e diretor coletivo da Editora Aleph; Marina Ávila, fundadora da Editora Wish e Eduardo Spohr, autor de A Batalha do Apocalipse (Editora Verus, 2010).

 

Inicialmente, os palestrantes conversaram sobre a principal característica do financiamento coletivo que o difere de outras formas de financiamento: a possibilidade de contato com os fãs. Dessa forma, o financiamento coletivo passa a ser uma forma de conectar pessoas que admiram o autor para participar da produção do seu livro e comemorar juntos o lançamento do mesmo. Além disso, as pessoas que participam desse  financiamento  também são importantes para incentivar o autor a continuar escrevendo e não desistir de seus projetos.

 

No palco, os atores estão sentados em debate sobre financiamento coletivo.
Penúltima palestra da Bienal foi marcada por uma conversa sobre financiamento coletivo [Imagem: Reprodução/Felipe Velames]

Em seguida, os presentes comentaram que o financiamento coletivo é uma campanha que exige muito de quem a produz, e que esgota seus criadores, consumindo de forma integral o tempo deles. No entanto, eles garantiram que é uma experiência recompensadora, já que é uma forma de você conhecer novas pessoas e de viver novas memórias.

 

Por fim, os autores apresentaram algumas dicas sobre o financiamento coletivo, como variar as opções de financiamento; pedir um valor que seja condizente com o seu projeto; e planejar para não se perder durante a campanha.

 

10 anos de Graphic MSP

Marcando o encerramento da Bienal do Livro, a plateia recebeu Sidney Gusman, responsável pelo Planejamento Editorial da Maurício de Sousa Produções (MSP), para discutir sobre os 10 anos de Graphic MSP, um selo editorial da MSP responsável por apresentar histórias baseadas nos quadrinhos do Maurício de Souza  em formato de Graphic Novel. Para falarem sobre esse assunto, subiram ao palco: Danilo Beyruth, Vitor Cafaggi, Rafael Calça, Cora Ottoni e Max Andrade.

Inicialmente, Sidney explicou como surgiu a Graphic MSP 10 anos atrás, quando ele apresentou o projeto para o Maurício de Souza de um selo que seria responsável por histórias autorais, em que os autores teriam liberdade criativa total para escreverem os seus projetos, desde que respeitassem a essência dos personagens. Como eles foram os primeiros lançamentos da Graphic MSP, Danilo, autor de Astronauta:Magnetar (Editora Panini, 2012), e Vitor, de Turma da Mônica: Lições (Editora Panini, 2013), conversaram sobre como foi o pedido do Sidney para que eles participassem do projeto.

 

Os autores estão em pé no palco, se despedindo da Bienal.
Encerrando a Bienal do Livro de 2022, quadrinistas da Graphic MSP se abraçaram no palco após um momento de lágrimas por um projeto especial de todos que completa 10 anos [Imagem: Reprodução/Felipe Velames]

Em seguida, os autores abordaram o objetivo por trás do selo: trazer de volta os antigos leitores ao universo dos quadrinhos através de temas mais adultos e uma abordagem mais madura. Para exemplificar esse objetivo, Rafael, autor de Jeremias:Pele (Editora Panini, 2018), comentou a importância de uma Graphic com um protagonista negro e que discute racismo na infância. 

Por fim, Sidney comentou a crescente importância do selo no mercado editorial da MSP, chegando a publicar 4 graphics por ano.   A importância dessas publicações vai além da questão financeira, tendo um valor sentimental para os próprios autores, como compartilhou e Cora, autora de Denise:Arraso (Editora Panini, 2022), e Max, autor de Anjinho:Além (Editora Panini, 2020), que cresceram lendo as graphics e disseram que o grande sonho deles como quadrinistas era produzir uma Graphic MSP. O trabalho desses autores têm sido reconhecido tanto pela crítica especializada, chegando a ganhar, por exemplo, o prêmio Jabuti em 2019, quanto pelo público, que tem admirado, cada vez mais, as histórias.

Encerrando a Bienal, a plateia e os convidados no palco se emocionaram ao falar de um projeto tão marcante para os presentes. Os autores, inclusive, choraram de emoção pelos 10 anos e pela crescente importância que os os quadrinhos e as Graphic novels vêm ganhando a literatura brasileira. 

 

*Imagem de capa: Felipe Velames

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