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Como as informações recebidas quando ainda somos um feto podem nos afetar?

Durante a gestação, não é só a forma física da pessoa que está em construção, mas também a forma como ela compreenderá o mundo

Todas as pessoas são únicas, possuindo aparências, opiniões, idiomas, nacionalidades, culturas e muitas outras características que as diferenciam uma das outras. Porém, independente de divergências, há uma experiência que todos já vivenciaram: a vida intrauterina. Assim é chamado o período de desenvolvimento do indivíduo e formação do bebê dentro do útero. É nesse processo que o ser humano começa a receber suas primeiras informações a respeito do mundo e a ter certos aspectos de si moldados, não apenas em sua forma física, mas também psíquica. Pois é, isso já começa dentro da barriga da mãe! Os resultados dos estímulos recebidos enquanto você ainda estava flutuando em líquido amniótico — fluido produzido na placenta, caminham com você até hoje.

Atualmente, já existem muitos estudos que comprovam que o ser humano recebe seus primeiros estímulos do mundo exterior nas etapas iniciais de seu desenvolvimento, conforme os sentidos evoluem ao longo da gestação. Esses estímulos já começam a esculpir aspectos da personalidade da pessoa. Se forem positivos, a tendência é que o processo contribua para a formação de um indivíduo tranquilo e saudável. Se forem negativos, a gestação pode resultar em uma pessoa com maiores tendências para doenças mentais.

 

Os primeiros processos de formação

Já no início da gestação, o embrião começa a diferenciar se o sentimento da mãe é de amor ou de rejeição. Isso porque as fortes emoções liberadas pela mãe têm repercussões no ambiente intrauterino. Como explicado pela doutora Silvane Vasconcelos Brotto, médica pediatra formada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e especializada em perinatalidade e ciência do início da vida, o processo começa da seguinte forma: a partir da segunda semana de gestação se desenvolve uma circulação uteroplacentária primitiva. Isso quer dizer que os hormônios que são liberados por meio das emoções maternas, que variam se as emoções forem positivas ou negativas, são absorvidos pelo embrião através do sangue da mãe, começando a informar como o mundo externo os afeta.

Em situações de estresse em que a gestante sente medo ou angústia, por exemplo, serão liberadas catecolaminas, substâncias bioquímicas, como a adrenalina, que vão encher o feto dessas emoções. Em casos mais crônicos, quando os níveis de cortisol — hormônio ligado ao estresse —, se mantêm elevados ao longo da gravidez, a química cerebral do bebê pode até mudar.

Já a endorfina, serotonina e ocitocina são os hormônios do contentamento liberados quando a mãe se sente bem cuidada. Essas substâncias também terão efeitos na constituição do bebê, uma vez que sua formação será estimulada por essa produção hormonal.

À medida que a gestação avança, o feto passa a experienciar o mundo para além da circulação uteroplacentária devido à formação dos órgãos de sentido. Ou seja, com o tato, o paladar, o olfato, o equilíbrio, a audição e a visão. Dessa forma, o útero se torna um ambiente de educação a respeito do mundo exterior.

imagem gráfica de bebê no útero ligado a placenta
Aos seis meses, quase todos os órgãos de sentido do bebê funcionam, tornando-o capaz de responder a toques e se assustar com barulhos altos. [Imagem: Reprodução/Pixabay]

O bebê dentro do útero possui a capacidade de assimilar estímulos externos, dentre eles estão luzes e sons. Um exemplo é que, quando nasce, a criança pode reconhecer vozes, a da mãe principalmente, mas esse reconhecimento também pode se estender para pai, irmãos e qualquer outra pessoa que tenha tido contato frequente com a mãe durante a gestação. É até mesmo possível reconhecer canções que ouvia quando ainda estava na barriga.

Por isso, é importante que esse ser receba estímulos sensoriais externos para aumentar a capacidade de aprendizado do feto. Como por exemplo, a família conversar com o bebê, contar histórias, cantar músicas, tocar a barriga e a mãe manter uma alimentação que seja benéfica para ela e para a criança.

 

A importância de uma gestação saudável

Em um país onde uma a cada quatro gestantes sofrem violência obstétrica, frequentemente as responsabilidades da gestação caem sobre a mulher, assim como a culpabilização de suas emoções. Por esse motivo, a gestação saudável é fundamental no processo de formação do bebê, mas para que ela ocorra, é  importante garantir às gestantes um ambiente em que não sejam violentadas física e psicologicamente.

Além disso, é impossível falar da experiência intra uterina do bebê sem levar em consideração a experiência familiar. O bebê deve receber cuidado não apenas em nível obstétrico, mas também nas relações familiares. Sendo a mãe o primeiro vínculo e a primeira fonte de informações que a criança terá acesso, a vivência da gestante é um dos fatores fundamentais nesse processo inicial, uma vez que pode afetar o feto a nível celular. Por isso, é importante que a gestação seja ambientada em um lugar agradável e com uma rede de apoio para que a mãe se sinta amada e segura e, assim, o bebê se sentirá da mesma forma.

“Uma mulher que está gestando está dando uma qualidade para cada órgão desse bebê, então, aquilo que ela consome como nutrição, tanto do corpo físico quanto da mente, quanto do espírito, são qualidades que vão permear a formação desse bebê”, diz  Silvane.

Os estímulos externos recebidos constituem o mundo daquela criança ainda em formação. Uma gestação em que a mãe está inserida em um contexto psicoestressante, como um lugar violento, seja dependente química, tenha uma dieta não nutritiva ou esteja adoecida, pode refletir negativamente na formação psíquica da criança. Isso porque sua gestação foi rodeada de impulsionamentos nocivos.

“O estado psíquico da gestante influencia o feto. E diria mais, influencia quando a criança nasce, pela falta de estímulos ou não. Mesmo [o bebê] estando dentro do útero da mãe, se ela não tem esses estímulos, o desenvolvimento é mais lento, mesmo intrauterinamente”, afirma Ana Simões, mestre em educação especial e especializada em intervenção precoce.

Como explicado anteriormente, o bebê absorve os hormônios liberados pelas emoções maternas, então, se ela sentir majoritariamente raiva, tristeza, abandono e estresse, o bebê absorverá uma grande quantidade de hormônios relacionados a emoções negativas e essas serão as primeiras noções que ele terá de sua existência. Esse tipo de informação acompanhará a criança em nível biológico, podendo afetar o seu desenvolvimento futuramente, aumentando sua propensão para desenvolver adoecimentos mentais.

Entretanto, é importante entender que situações psicoestressantes passageiras não causam efeitos consideráveis, apenas fortes emoções condicionadas por um longo período afetam de maneira significativa em possíveis adoecimentos mentais. E a propensão não é equivalente ao diagnóstico. O desenvolvimento de adoecimentos psicológicos ocorre por motivos múltiplos, e não necessariamente a pessoa passará por situações ao longo da vida que engatilham esses fatores adquiridos durante a gravidez. Ainda assim, há maior possibilidade de apresentar doenças como depressão ou transtornos de ansiedade.

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