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1984: uma distopia um tanto realista

O romance de George Orwell impacta o leitor a partir de uma construção futurista da realidade e uma série de críticas sociais

Uma das distopias mais famosas do momento, 1984 impacta o leitor desde o primeiro instante. A obra escrita por George Orwell é mundialmente conhecida por inspirar a criação do reality show Big Brother. 1984 é um romance nada clichê ou heroico, repleto de críticas à sociedade, e foi publicado pela Editora Aleph em 2021.

O livro foi publicado pela primeira vez em 1949 e apresenta uma construção futurista da realidade, na qual as teletelas — um tipo de tecnologia que funciona como rádio e televisão indesligáveis — estão em todos os lugares e por meio delas o chefe de estado, “O Grande Irmão”, está sempre observando a população. A narrativa se faz contemporânea neste momento, pois a internet pode ser interpretada como nosso grande observador — por exemplo, com certeza você já mencionou querer comprar algo e, pouco tempo depois, recebeu propaganda do item.

1984 acompanha a vida do personagem Winston Smith, que parece ser o único a ter consciência das mudanças diárias de informações nos jornais e memórias a respeito de aliados de guerra e das não pessoas — que eram eliminadas da sociedade da narrativa. Todos os tipos de conteúdos culturais e midiáticos são constantemente alterados de acordo com a vontade do Grande Irmão. E ainda que essas alterações sejam negativas à população, esta não se revolta — pelo contrário, aceita como presente. Isso porque o controle sobre a massa acontece por diversas formas, e o autoritarismo foi enraizado na mente dos cidadãos. 

A Novalíngua, por exemplo, é uma das formas peculiares que a Oceânia — império do Grande Irmão e cenário da história — utiliza para controlar a população. Essa linguagem consiste em reduzir os termos existentes. Parece uma medida inocente e até prática no primeiro momento, mas esconde a real finalidade. Com o desaparecimento de muitas palavras, fica impossível descrever sentimentos de descontentamento e até mesmo formular possíveis críticas ao regime — assim, a população é silenciada. Uma oposição jamais poderia se formar sem descrever suas articulações de forma clara. 

O ódio e o amor se confundem ainda mais com o surgimento de uma nova edição da Novalíngua. Assim, o Grande Irmão triunfa, sentimentos contrários a ele não se concretizam na linguagem e a liberdade de expressão torna-se impossível.

 

“Guerra é paz. Liberdade é escravidão. Ignorância é força”

Os três slogans do Partido — grupo institucional que valida a permanência do Grande Irmão no governo — fundamentam a sociedade do império e, assim como a NovaLíngua, causam distorção da percepção da realidade. 

A guerra referida no primeiro slogan (“Guerra é paz”) ocorre entre a Oceânia e outros dois impérios, a Eurásia e a Lestásia, que oscilam entre aliados e inimigos. A guerra é vista como prioridade pelo Estado, porque é fundamental para o entretenimento dos homens. Ela substitui o amor e lhes dá motivo para viver, fazendo com que a população se interesse somente por sangue e violência, em vez de assuntos políticos. Além disso, a guerra é vista como geradora de empregos, pois a mudança constante de alianças faz necessária a edição de livros de história, por exemplo.

Era de responsabilidade do Partido cuidar das falsificações necessárias. Winston e seus colegas registravam o passado, de acordo com as ordens superiores. Quando um antigo aliado passava a ser o inimigo de guerra, era necessário apagar todas as menções positivas feitas em jornais, livros ou músicas, alterar todo tipo de registro para que ele fosse visto somente como inimigo. Assim, era como se o passado não existisse: ele era sempre alterado conforme o presente. 

Winston passa a sentir menosprezo pelo Partido ao perceber os mecanismos de manipulação. Mas, ainda que indignado, o que poderia fazer contra o sistema autoritário?

 

Crimideia é a morte

Winston acredita que, ainda que houvesse uma maneira de derrotar o autoritarismo e acabar com toda a manipulação da população, ele estaria morto muito antes dessa vitória acontecer. Estaria morto pela crimideia, o ato de questionar o socing (“socialismo”, em NovaLíngua), o sistema ideológico do Partido.

Como sua morte era apenas uma questão de tempo, comprou um livro para escrever escondido das teletelas. Seria seu diário, sua memória registrada em papel. Ainda que isso não fosse ilegal — já que não existiam leis —, ele seria punido pela crimideia por meio da Polícia do Pensamento, que vigiava os pensamentos das pessoas.

Essa rebeldia desenvolve toda a trama. O desejo de ir contra o sistema é o que fomenta uma paixão improvável e problemática. Leva também à última parte da história com uma reviravolta que — embora não surpreendente — com certeza não é desejável para o leitor.

O livro 1984 fará você repensar todos os mínimos detalhes do seu cotidiano, porém sem dar nenhuma resposta sobre nossa própria realidade e tampouco prever o que nos espera no futuro. George Orwell apenas coloca questões na mente do leitor. Essa ficção não deve ser considerada mero entretenimento, mas definitivamente necessária para que o leitor tenha crimideias e assim evitar de vivenciarmos um cenário parecido. (Se é que já não estamos vivendo.)

4 comentários em “1984: uma distopia um tanto realista”

  1. Adorei a resenha! Já tinha uma ideia básica sobre o conteúdo do livro, mas agora ele com certeza vai entrar na minha lista de leituras ❤️

  2. Ótima análise! Ainda não terminei o livro, mas consigo perceber o quão atuais esses assuntos são, ainda que tenha sido produzido no século passado. Percebo que nos dias atuais, muitos jovens acreditam que as coisas são muito diferentes do passado, que problemas como esses estão distantes, entretanto, tais problemas só foram encobertos e camuflados. Devemos, pois, “ir contra o sistema”: ser contrário à essa espécie de modelo fordista do pensamento. Questionemos!

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