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Megafauna: os mamíferos da Era do Gelo

Preguiças de três metros de comprimento e tatus do tamanho de fuscas: esses são alguns dos animais com os quais os primeiros humanos na América conviveram. Hoje, esses seres são agrupados como “a megafauna do pleistoceno”. O biólogo e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Mário Dantas, explica que, ao falarmos desse grupo, “nos …

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Preguiças de três metros de comprimento e tatus do tamanho de fuscas: esses são alguns dos animais com os quais os primeiros humanos na América conviveram. Hoje, esses seres são agrupados como “a megafauna do pleistoceno”. O biólogo e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Mário Dantas, explica que, ao falarmos desse grupo, “nos referimos aos mamíferos que viveram durante o final de uma época chamada ‘pleistoceno’, há aproximadamente 12 mil anos, também conhecida como a última ‘Era do Gelo’”.

Quando pensamos sobre mamutes e tigres-dentes-de-sabre, estamos pensando em alguns expoentes da megafauna, mas esse universo é ainda mais interessante do que aparenta. O megatério, a preguiça-gigante que abre o texto, era uma espécie que, ao contrário dos seus parentes atuais, vivia em terra, não nas árvores. Ela andava pelo ambiente com suas garras curvadas para dentro. 

E, principalmente, a ocorrência dos animais de grande porte era maior. Em território brasileiro, há registros de ocorrências de ursos e cavalos selvagens que foram extintos. Diferentes continentes possuíam faunas únicas e que, ainda assim, tinham paralelos entre si. Enquanto a América do Norte tinha leões gigantes, a do Sul tinha tigres-dentes-de-sabre. Lhamas gigantes daqui tem ancestrais comuns aos camelos e dromedários do outro lado do Atlântico.

 

Ilustração de megatério por Heinrich Harder [Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons]
Ilustração de megatério por Heinrich Harder [Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons]

 

O mundo na época da megafauna

Animais de porte tão grande precisam de espaço para existirem. Isso significa que matas fechadas como a amazônica não poderiam conservar essa fauna. O ideal seria um ambiente amplo, com vegetação para o funcionamento da teia alimentar, com árvores esparsas. Essa é a descrição de uma savana.

É preciso compreender que, nesse momento, o mundo estava mais frio e seco. Os polos estavam congelados, e, por mais que fosse quente nas regiões equatoriais, não havia a abundância de chuvas que conhecemos hoje. Assim, as florestas de região úmida eram muito mais reduzidas e o predomínio era da região semiárida.

No Brasil, o cerrado, que ecologicamente é uma savana, competia com as florestas pelo espaço e, no geral, saía soberano. Vários remanescentes dessa época, que não eram parte da megafauna, continuaram existindo em sua plenitude, beneficiados pela expansão da vegetação de clima úmido. Esses animais conviveram temporalmente, mas não no mesmo local.

 

O que aconteceu

O habitat desses seres é um dos principais fatores para a sua existência. A relação dos organismos no ambiente é sensível e modificá-lo afeta grande parte dos envolvidos. Infelizmente, para esses animais, o planeta estava oscilando entre um período glacial, que favorecia as savanas, e um interglacial, que favorecia as florestas. Essa oscilação afetava diretamente os herbívoros, que começaram a ser lentamente extintos.

Adaptação é a palavra-chave quando o assunto é sobrevivência. O paleontólogo e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Hermínio Ismael, explica que espécies generalistas, com mais opções de alimentação e de ambientes para viver, tendem a resistir mais do que as especialistas, que são mais limitadas. “Os mamíferos que são remanescentes são generalistas: podia ficar mais frio e seco ou mais quente e úmido e eles estavam adaptados. Enquanto a megafauna, os grandes mamíferos, eram mais especialistas”, afirma.

A relação com os humanos também pode ter tido impacto para a extinção da megafauna. Existem evidências que mostram uma caça intensa desses animais pelo mundo, conforme o avanço do homem pelo planeta. Com a chegada dos humanos na Europa e na América do Norte, a megafauna também vai sumindo nesses locais. No Brasil, a falta de evidências sobre a ocupação humana dificulta embasar essa teoria para a região.

A relação entre as pessoas e esses animais pode ser encontrada nos relatos populares de povos nativos. Algumas teorias indicam que alguns animais folclóricos são, na realidade, seres que conviveram com os homens há milênios, cujas descrições foram mantidas pela oralidade. O maior exemplo é o do Mapinguari, figura de lendas de alguns povos amazônicos. Sua descrição remete a uma preguiça-gigante que, de fato, viveu em solo amazônico. O pesquisador David Oren foi um dos primeiros a levantar essa hipótese e, inclusive, realizou uma expedição nos anos 1990 em busca desse animal. Ismael reforça que existe a possibilidade de haver essa correlação entre as lendas e a realidade, porém seria apenas um relato de antepassados transmitido pelas gerações, e não seria possível que a megafauna de fato ainda existisse escondida na floresta, como acreditava Oren.

Porém, há um lugar do mundo em que a megafauna foi preservada: o continente africano não sofreu mudanças tão drásticas na vegetação, mantendo sua savana de tamanho considerável. As girafas e elefantes que encontramos por lá são os mesmos, ou semelhantes, aos que viveram durante o pleistoceno. Ao pensar na megafauna da Era do Gelo, é preciso pensar também nesses animais africanos e como eles se relacionavam.

 

Animais gigantes pelo mundo

A incidência de megafaunas se repete na história. Para alguns pesquisadores, megafauna abrange os animais com peso a partir de uma tonelada. Essa definição pode ser aplicada em diferentes locais e momentos do planeta, e, assim, ver diferentes grupos de animais ficando maiores e dominando a Terra.

“São as nuances ambientais que vão moldando as faunas ao longo do tempo e controlando quem ora é maior, quem ora é menor”, explica o paleontólogo. Períodos mais quentes e úmidos permitiram o domínio dos anfíbios, que tinham uma aparência mais crocodiliana do que de sapo, e, posteriormente, dos répteis, dos dinossauros. Já os mamíferos e aves se apossaram de momentos mais frios e secos, como a Era do Gelo. Até mesmo os insetos já tiveram seu momento de grandiosidade em um período de alta na oxigenação do planeta. O ambiente marinho também é berço de espécies gigantes que vão desde mamíferos, como a baleia, até moluscos, como a lula gigante, sem esquecer de peixes de tamanho colossal que podem ter inspirado lendas de monstros do mar.

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