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O que rolou no terceiro dia do Pint Online

Mesmo dentro de casa, a cerveja e a ciência ainda combinam. O Laboratório esteve presente no terceiro dia do Pint of Science Online, que abordou o comportamento no isolamento social e a astrobiologia. Confira a cobertura da transmissão ao vivo! Saiba também o que rolou no segundo dia do evento.   Comportamento animal: o que os bichos …

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Mesmo dentro de casa, a cerveja e a ciência ainda combinam. O Laboratório esteve presente no terceiro dia do Pint of Science Online, que abordou o comportamento no isolamento social e a astrobiologia. Confira a cobertura da transmissão ao vivo!

Saiba também o que rolou no segundo dia do evento.

 

Comportamento animal: o que os bichos dizem sobre nós?

O que podemos aprender sobre os humanos baseado no comportamento animal? Até porque o ser humano é um animal, certo? A resposta para essas questões foi o que deu início ao último dia do festival online do Pint of Science. Quem falou a respeito disso foi Eduardo Bessa, professor de zoologia da Universidade de Brasília (UnB), com foco no momento que vivenciamos agora, a pandemia do Covid-19. 

Para iniciar o assunto, ele pontuou que os animais, assim como os humanos, também tem uma vida social bastante intensa e estar socialmente isolado é algo que naturalmente desencadeia tensão. Nesse sentido, não somente o isolamento, como também o deslocamento do seu eixo natural e um novo convívio com indivíduos diferentes contribuem para que ocorra um pico de cortisol (hormônio indicador de estresse).

Bessa também fez uma comparação do nosso comportamento com o dos primatas, “nossos parentes mais próximos”. Foi analisado que quando há contato social entre esses mamíferos, há também uma diminuição do estresse. Este é um fator que temos em comum com tal espécie e podemos notar pela nossa irritabilidade durante a quarentena, quando nos vemos impossibilitados de interagir e ter um contato mais próximo com outras pessoas.  

Uma questão interessante abordada por Bessa foi sua experiência com furões no zoológico de Cuiabá. Ele trabalhava com um furão isolado, que mantinha certo comportamento estereotipado e nocivo à própria saúde, até que foram colocados alguns filhotes saudáveis no mesmo ambiente, na esperança de mudar os vícios comportamentais do adulto. A grande surpresa do professor foi a de que, ao invés de ajudar, os filhotes começaram a repetir a estereotipia do furão. Por isso, Bessa alerta: “muito cuidado com quem você vai ficar isolado agora, porque as chances de ser influenciado junto são altas”.

Para concluir, o professor discutiu um pouco sobre o conceito de territorialidade, quando um indivíduo demarca uma determinada área e a defende, para uso próprio. Essa estrutura funciona bem quando se trata de ambientes amplos, mas quando nos deparamos com um espaço pequeno compartilhado com terceiros, se torna mais difícil defender seu lugar, favorecendo o aumento do estresse. Da mesma forma acontece o isolamento social dentro de nossas casas, onde muitas famílias voltaram a ter que compartilhar o mesmo ambiente numa parcela de tempo integral.

 

Pandemia: como a psicologia pode nos ajudar?

Na outra parte da palestra, o professor associado de psicologia social e do trabalho da Universidade de Brasília (UnB), Ronaldo Pilati, também conversou sobre o comportamento humano durante a quarentena e complementou o que Bessa expôs: “a espécie humana é mais uma espécie, compartilhamos muitos elementos e similaridades em relação à outras espécies”.

O professor da Universidade de Brasília iniciou discorrendo sobre a necessidade de filiação do ser humano, de participar de interações sociais. Não somente para fazer parte de um grupo social, como também para entendermos quem somos e criar nossa própria identidade, nos diferenciando dos outros à nossa maneira. 

Entretanto, em um cenário de pandemia, onde a medida mais efetiva é o distanciamento, não há a possibilidade de manutenção dessa dinâmica, acarretando em uma série de consequências, sociais e de saúde.

Para resolver isso, Pilati traz o conceito de plasticidade comportamental. A idéia da plasticidade seria desenvolver meios estratégicos para lidarmos com a situação, de forma a nos adaptarmos à nova realidade. Algo que já tem sido feito, por exemplo, é usar a tecnologia e continuar interagindo virtualmente, ou a iniciativa dos encontros verticais nas varandas de apartamento, sendo uma forma de interação social, ainda que sem contato. 

Além disso, o professor passou algumas dicas para uma melhor adaptação durante a pandemia, como o estabelecimento de uma rotina. Ele procurou destacar que não é a maior parte da população que tem condições para trabalhar no modo de home office, mas para aqueles que conseguem, é fundamental constituir uma rotina para que o relógio biológico não fique desorientado. Outro ponto que comentou foram as crises de ansiedade e conflitos que podem vir a acontecer nesse período, dizendo que é necessário ter muita tolerância e conversa para resolver essas questões e, caso possível, procurar por ajuda profissional. 

Ao final, Bessa, Pilati e Luiz Almeida, diretor nacional do Pint of Science e administrador do evento, se reuniram para responder algumas perguntas daqueles que estavam assistindo à live. Uma delas foi a seguinte: ‘Nesse isolamento, vocês acham que o comportamento do ser humano pode influenciar no dos animais ou vice-versa?’.

Luiz Almeida, Ronaldo Pilati e Eduardo Bessa conversando e respondendo às perguntas enviadas durante o evento. Imagem: Reprodução Pint of Science.
Luiz Almeida, Ronaldo Pilati e Eduardo Bessa conversando e respondendo às perguntas enviadas durante o evento. Imagem: Reprodução Pint of Science.

Para Pilati, como as pessoas estão passando muito mais tempo em casa, podem vir a conviver mais dentro do espaço dos animais, o que muda significativamente a rotina deles. Um aspecto que notou também foi que a presença de animais dentro de casa contribui para criar rotinas, o que ajuda para passar a quarentena. 

Em concordância, Bessa complementou que não somente influenciamos a rotina dos animais, como eles influenciam as nossas. Para ele, vale ressaltar que também há uma situação de coevolução entre as duas espécies, em longo prazo, e o acontecimento da plasticidade, em curto prazo, como mencionada por Pilati.

 

Vida em Marte: é possível?

Na outra metade do evento, Ana Carolina Carvalho, doutora em biotecnologia pela Universidade de São Paulo (USP) com experiência em microbiologia, comenta a respeito do que se tratam os estudos da astrobiologia. Ela diz que essa ciência pesquisa a origem da vida no universo, em sua forma química e biológica, além de procurar por vida fora da Terra. Toda a palestra foi um bate-papo com Luiz Almeida e também comentários de acordo com publicações nas redes sociais da mesma. 

Ana Carolina, doutora em biotecnologia pela USP e Luiz Almeida, diretor nacional. Imagem: Reprodução Pint of Science.
Ana Carolina, doutora em biotecnologia pela USP e Luiz Almeida, diretor nacional. Imagem: Reprodução Pint of Science.

Para iniciar, o que determina que um ser é vivo? Essa foi a primeira pergunta abordada por Ana Carolina que elencou alguns elementos essenciais: o indivíduo precisa ter água líquida, necessária para executar as reações químicas do organismo, além de ser capaz de transferir informações e criar novos seres. Também precisa de uma fonte de energia e estar apto a absorvê-la para manter um metabolismo ativo.  

Logo em seguida, falou-se das grandes dificuldades da vida em Marte. Começando pelo solo, onde possui muitos sais prejudiciais à vida (como o perclorato) e metais, além de ser bastante seco. Aliado à isso, vemos que a atmosfera marciana é menos densa que a da Terra, o que faz com que alguns raios como o UV-C, 265nm, altamente fatal, atinja a superfície do planeta. Ademais, há uma maior presença do dióxido de carbono (CO2), com uma taxa muito pequena de oxigênio, inviável para respiração humana.

Ana Carolina também comentou sobre as respostas que obteve quando perguntou aos internautas o que produziriam para comer em Marte. Dois espectadores responderam que plantariam batatas, como no filme ‘Perdido em Marte’, onde o protagonista sobrevive pelo cultivo desse tubérculo. Outra alternativa interessante foi produzir fazendas de insetos, que são fontes de proteína boa e possivelmente conseguiriam viver em Marte. Também responderam que cultivariam algas, o que é possível para alguns tipos específicos que sobrevivem à radiação, no entanto precisam de água, o que já impossibilitaria a tentativa, visto que a água encontrada em Marte fica no subsolo e é salobra, ou seja, salgada. 

Algumas alternativas estudadas pela doutora em biotecnologia são microrganismos capazes de sobreviver às características do planeta Marte. Os primeiros que Ana Carolina abordou foram os tardígrados, artrópodes que conseguem se encapsular e, dessa forma, são extremamente resistentes à extremos de temperatura e radiação. Entretanto, isso só acontece quando estão encapsulados, logo inativos, e em outros condições não conseguiriam sobreviver a pequenas exposições de temperatura. 

Outro organismo capaz de sobreviver a ambientes inóspitos como Marte é a bactéria Deinococcus radiodurans, modelo para a astrobiologia. É conhecida por sobreviver a altas doses de radiação e diferenças de temperatura e até mesmo dissecação, porém com suas exceções. 

Há, ainda, um ser distinto mais efetivo: a levedura, do tipo das Saccharomyces, os fungos responsáveis pela fermentação em pães e na produção do álcool. Não somente para produção de alimentos, ela é muito importante como fonte de energia (bioetanol) e na produção de fármacos. Ana Carolina a destaca como uma fonte de proteína: “Se você consegue produzir uma levedura enorme de Saccharomyces, você consegue fazer com que ela produza a proteína que você quer, então ela pode ser a fonte que você precisa e vai ocupar bem menos espaço”. Assim, as leveduras seriam a grande aposta para, no futuro, garantir o abastecimento de humanos em solo marciano, além de apresentar utilidades em muitos campos diferentes.

Participantes do Pint of Science Online: Luiz Almeida, Ana Carolina, Eduardo Bessa e Ronaldo Pilati. Imagem: Reprodução Pint of Science.
Participantes das palestras: Luiz Almeida, Ana Carolina, Eduardo Bessa e Ronaldo Pilati. Imagem: Reprodução Pint of Science.

Por último, os participantes do evento voltaram a se reunir e fizeram um agradecimento especial aos bares que já sediaram o evento e também um brinde em homenagem a todos os cientistas brasileiros e aos profissionais que estão na luta do combate ao coronavírus. 

O segundo dia do evento está disponível no canal ‘Pint of Science Brazil’ e pode ser acessado por meio deste link.

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