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O que rolou no primeiro dia do Pint Online

O Pint of Science é um festival científico internacional que busca divulgar ciência de forma descontraída. O evento divulga o conhecimento científico fora das salas de aula, geralmente em bares. Este ano, devido ao isolamento social imposto pela pandemia do Covid-19, o evento aconteceu pela internet. O Laboratório assistiu ao primeiro dia do Pint Online …

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O Pint of Science é um festival científico internacional que busca divulgar ciência de forma descontraída. O evento divulga o conhecimento científico fora das salas de aula, geralmente em bares. Este ano, devido ao isolamento social imposto pela pandemia do Covid-19, o evento aconteceu pela internet. O Laboratório assistiu ao primeiro dia do Pint Online através da transmissão ao vivo pelo YouTube, confira a cobertura!

 

 

Entre diferenças regionais e trajetórias pessoais (Por Guilherme Gama)

No dia 11 de maio, primeiro dia do evento, a parte inicial teve como tema “Ciência no Bar? Balbúrdia”, com a apresentação dos coordenadores regionais e nacionais. O diretor nacional, Luiz Gustavo de Almeida, relembrou os motivos pelos quais o Pint Online é necessário meio à quarentena, não apenas por respeitar as medidas de isolamento social impostas, mas também por fazer a ciência resistir meio a esse cenário: “Só com a ciência a gente vai sair disso”. Luiz esclareceu a intenção da primeira palestra de contar um pouco sobre a história e evolução do Pint of Science Brasil e destacar as diferenças regionais.

Coordenadores brindam à ciência e aos profissionais de saúde que enfrentam o coronavírus. Reprodução: Pint of Science
Coordenadores brindam à ciência e aos profissionais de saúde que enfrentam o coronavírus. Reprodução: Pint of Science

A coordenadora do estado de São Paulo, Cintia Milagre, contou brevemente sua trajetória no Pint e destacou a evolução do evento no estado. Segundo ela, o festival surgiu internacionalmente em 2012, em 2015 chegou ao Brasil, na cidade de São Carlos, e, nesse ano de 2020, o evento estaria em 183 cidades, sendo 41 delas em São Paulo. Além disso, Cintia comentou sobre as críticas em relação à  inclusão social no evento. Ela destacou as eventuais traduções em libras, participações de músicos deficientes visuais, a parceria com a Casa de Cultura Fazendo Roseira em Campinas e a participação de tribos indígenas. 

Falou-se, também, sobre a crescente demanda por uma adaptação do evento ao público infantil, citando o esforço para o desenvolvimento do “Pint of Milk”. Em entrevista ao Laboratório, o diretor nacional, Luiz Almeida contou mais sobre esse projeto. Ele diz que a participação de famílias no festival sempre foi incentivada, e quando perceberam a frequência cada vez maior de crianças nas palestras,“surgiu a ideia de realizar o Pint of Milk”. O coordenador afirmou que junto ao grupo está pensando em maneiras mais lúdicas de ensinar ciência. Luiz completou dizendo que “a ideia do Pint não é formar especialista em apenas um evento, mas despertar nas crianças o interesse em alguma área da ciência”.

Marina Andrade, coordenadora de Minas Gerais, foi enfática em expor a singularidade da participação governamental do estado no evento, já que a Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG) e o grupo Rede Mineira de Comunicação Científica (RMCC) foram alguns dos elementos essenciais para a promoção do festival.

A coordenadora do Rio de Janeiro e Espírito Santo, Ana Laura Borges, também destacou a diversidade do público, cada vez mais presente no evento. Nesse sentido, ela citou o caso de uma palestra sobre saúde mental em Petrópolis (RJ), em que um grupo de freiras fez parte da plateia.

Foto tirada no evento mencionado por Ana Laura. Foto: Pint of Science
Foto tirada no evento mencionado por Ana Laura. Foto: Pint of Science

Além disso, Ana falou sobre como a pluralidade de assuntos abordados é benéfica até aos membros da comunidade científica, compartilhando sua própria experiência como uma microbiologista que aprendeu muito em palestras de física quântica. A coordenadora discutiu a importância de interiorizar o avanço da divulgação científica como forma de expor e fortalecer a ciência produzida nas regiões afastadas da capital. “Divulgar ciência no interior é mostrar também o que é feito ali, dar valor à sua comunidade.”

Logo depois, Denis Soares, coordenador do Nordeste, discutiu sobre a trajetória de levar a ciência nesse formato para a região, que contaria com 30 cidades neste ano de 2020. De acordo com ele, o apoio das universidades é muito importante. “Nossa sociedade carece de ciência e de saber o que é ciência. A gente só vai ter um país forte quando a nossa sociedade valorizar os cientistas”, ele diz. 

Jerusa Quintão, que coordena o Pint Of Science no Norte, contou sobre o atraso da chegada do evento na região. Segundo ela, 14 cidades sediam o evento nos sete estados, muito distantes uns dos outros. Ela contou ao Laboratório um pouco mais sobre as particularidades do Norte: “Uma das grandes dificuldades da realização de eventos aqui é a participação de outras cidades em função do distanciamento geográfico, mas o crescente uso e acesso das redes sociais têm permitido divulgar as palestras e despertar o interesse de voluntários”.

Jerusa ressaltou que para as cidades interioranas de pequeno e médio porte é um grande desafio encontrar estabelecimentos dispostos a participar, que, muitas vezes, não compreendem que a ciência desperta interesse.

 

Fake news em ciência? E daí? (Por Beatriz Hermínio)

A segunda parte do evento abordou o tema “Fake News em ciência” e contou com a presença de Natalia Pasternak, ex-diretora do Pint no Brasil, bióloga e divulgadora científica. A palestra percorreu a relação dos cientistas com as fake news, a influência destas na atualidade e o modo como é possível enfrentar a divulgação de notícias falsas dentro e fora do meio acadêmico e científico.

Para dar início ao tema, Natalia contou um pouco sobre a sua história com as fake news. Ela comentou que costumava reclamar que as pessoas não davam valor à ciência, até perceber que a comunidade científica pouco fazia para “sair de dentro da bolha”. A bióloga e microbiologista ainda ilustrou sua relação com as notícias falsas ao contar como, após o nascimento de sua filha, entrou num grupo de mães no WhatsApp: “Nunca tinha escutado tanta bobagem científica junta”. A partir daí, ela percebeu que não seria possível defender a ciência apenas tentando convencer pessoas de que as notícias nas quais elas acreditam são falsas – era preciso divulgar informações científicas de forma palatável, para que as pessoas pudessem tomar decisões baseadas em fatos.

Foi então que Natália passou a se especializar na área de divulgação científica focada na perspectiva de defesa da ciência. Essa movimentação surgiu para que mães pudessem decidir se iriam vacinar seus filhos com base na ciência e para que a crença em remédios milagrosos, como a pílula do câncer, fosse combatida.

“Falar de fake news é nosso dia a dia”. Pasternak contou que viu cientistas serem questionados a respeito de notícias falsas sobre aquecimento global, transgênicos, astrologia, medicina alternativa e alertados da necessidade de medidas para evitar a divulgação de tais notícias e, como resposta, diziam “e daí?”. Foi com essa lembrança que a palestrante trouxe a discussão para o momento presente, afirmando que pessoas morrem por acreditar em fake news. Ainda sobre a situação enfrentada pelo Brasil na gestão contra a Covid-19, diz que acreditar em pseudociências – teorias que não têm base na aplicação de métodos científicos – e em notícias falsas “leva você a acreditar em cloroquina para Covid-19, leva você a acreditar que não precisa de isolamento social e que tem gente enterrando caixões vazios”.  

Natalia acrescentou que essas crenças fazem parte de um pensamento sem fundamento na razão e na ciência e que é necessário ensinar as crianças a pensar de forma crítica e racional. “Será que tudo é bobagem? Podemos dizer ‘e daí’? Ou isso levou a um momento em que tivemos que escutar o Presidente da República dizer o mesmo quando questionado sobre a marca de 10 mil mortos.”

Luiz Almeida, coordenador da franquia e Natalia Pasternak, palestrante do evento e bióloga fundadora do Instituto Questão de Ciência. Reprodução: Pint of Science
Luiz Almeida, coordenador da franquia e Natalia Pasternak, palestrante do evento e bióloga fundadora do Instituto Questão de Ciência. Reprodução: Pint of Science

Luiz Almeida comentou como é possível ver traços de pseudociência circulando entre cientistas na academia. A isso, a divulgadora científica acrescentou que esses argumentos são reflexos do quanto ainda existe um longo caminho para ensinar o método científico nas formações profissionais e uma necessidade de uma formação mais sólida sobre como a ciência funciona.

Quando Luiz abriu espaço para perguntas, surgiu a questão “Como desmistificar fake news no WhatsApp?”. Natalia Pasternak respondeu que uma estratégia seria perguntar por que a pessoa que enviou aquilo acredita na mensagem, se ela conhece quem está informando e a pessoa de quem recebeu. Ela ainda comentou que para espalhar uma notícia falsa basta uma frase, mas para desmenti-la é preciso um texto enorme. O maior desafio é conseguir ser conciso e direto: “Eu parto do princípio de que a gente tem que ter informação disponível. O importante é ter o contraponto, ter locais onde a pessoa possa encontrar informações confiáveis que são colocadas numa linguagem simples e acessível.”

A uma outra pergunta, “Por que a Pseudociência parece ser mais atrativa para a ‘massa’ do que a Ciência?”, Natalia respondeu que a pseudociência é fácil e não precisa de esforço para ser compreendida, fala para as pessoas aquilo em que querem acreditar, que existe uma solução muito fácil e útil para tudo.“E quem não gostaria de viver num mundo mágico?”, completou.

Haveria, portanto, uma forma de combater o engajamento emocional por parte de quem compartilha fake news? Esse envolvimento pessoal demonstra, como colocado por Natalia, que apenas dar a informação não basta, é necessário ter  o trabalho de explicar, o contrário, pensamos “e daí?” e ignoramos. Mas explicar, sem dúvidas, requer muita paciência. 

Foi com essa última questão que a palestra chegou ao fim, e os agradecimentos pelas palavras precisas e atuais da palestrante se manifestaram nos comentários da live.

 

O primeiro dia do evento está disponível no canalPint of Science Brazile pode ser acessado por meio deste link.

1 comentário em “O que rolou no primeiro dia do Pint Online”

  1. Pingback: Pint of Science Online: o que rolou no segundo dia - Jornalismo Júnior

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