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Festival Varilux 2019: Uma história por Ozon, “Graças a Deus”

Este filme faz parte do Festival Varilux de Cinema Francês de 2019. Para mais resenhas do festival, clique aqui. François Ozon não costuma basear seus filmes em histórias reais. Graças a Deus (2018), exibido no Festival de Berlim, é uma exceção. O longa é inspirado na experiência de vítimas do padre Bernard Preynat (Bernard Verley), responsável …

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Este filme faz parte do Festival Varilux de Cinema Francês de 2019. Para mais resenhas do festival, clique aqui.

François Ozon não costuma basear seus filmes em histórias reais. Graças a Deus (2018), exibido no Festival de Berlim, é uma exceção. O longa é inspirado na experiência de vítimas do padre Bernard Preynat (Bernard Verley), responsável pelas atividades de um grupo de escoteiros e pela catequese de crianças na cidade de Lyon, entre os anos 1970 e 1991.

Com flashbacks e o ritmo marcado pela leitura de comunicações em e-mail e cartas denunciando os abusos, a obra acompanha os esforços de três homens para que Preynat seja condenado por pedofilia e afastado de suas atividades na Igreja.

O filme começa em 2014 com o foco em Alexandre (Melvil Poupaud), homem fervorosamente católico, que resolve escrever à arquidiocese de Lyon — motivado pelo relato de um  amigo que também sofreu abusos —, quando descobre que Preynat voltou à cidade.

Inicialmente, Alexandre acredita tratar-se de uma questão da Igreja que deve ser resolvida internamente, razão pela qual aceita participar de uma sessão de conciliação com o padre. Para sua surpresa, Preynat não nega as acusações, tampouco pede perdão.

Com um sarcasmo característico, Ozon consegue fazer rir ao mesmo tempo em que aborda o tema com seriedade. Isso ocorre pelo flagrante desconforto e o ridículo de certas situações, como na cena que que o padre se negar a admitir o fato em público com medo de reações violentas. Ele reclama que já foi atacado por pais de crianças e que os abusos que praticou “não são motivo para violência”.

Após escrever ao Cardeal Barbarin (François Marthouret) e até ao Papa Francisco, Alexandre percebe que sua denúncia não tem efeitos e que Preynat dificilmente será punido. Mesmo depois da confissão perante a Arquidiocese de Lyon, ele continua celebrando missas e sendo responsável por crianças.

Em 2015, a inação da Igreja leva Alexandre a denunciar o padre na justiça e a prestar queixa contra seu abusador. A partir daí, tem início a investigação oficial sobre o caso e outros personagens ganham protagonismo.

François (Denis Ménochet) e Emmanuel (Swann Arlaud), tomam conhecimento do caso decidem apoiar a denúncia contra Preynat com seus depoimentos. Junto com Alexandre e Gilles (Éric Caravaca), criam uma rede de apoio às vítimas do padre que reúne mais de 60 relatos de meninos que sofreram abusos, a Associação Parole Liberée (Palavra Liberta).

Alexandre, François, Gilles e Emmanuel criaram a organização Parole Liberée [Foto: Divulgação]

A mudança de foco entre os protagonistas aproxima o filme da realidade. Enquanto Alexandre tem uma vida confortável, um bom relacionamento familiar e é profissionalmente bem sucedido, François não encontra uma situação tão acolhedora em sua família quando a história vem à tona.

O panorama fica completo com a inclusão da experiência de Emmanuel. Diferentemente dos outros dois, que conseguiram seguir suas vidas, ele nunca se recuperou completamente dos abusos sofridos. O personagem admite que, mesmo depois de tantos anos, não construiu nada. Ele não tem emprego, vive um relacionamento tóxico e foi fisicamente prejudicado por Preynat.

O único apoio de Emmanuel é sua mãe, que na época dos fatos se omitiu e preferiu não se posicionar diante da situação. A maneira como o filme retrata as famílias das vítimas é interessante, pois mostra o tabu do abuso e as consequências para as pessoas envolvidas.

Em entrevista, Ozon conta que ao se encontrar com as pessoas que inspiraram os personagens do longa, percebeu como seu atos foram heroicos. Ele quis mostrar como foi guardar segredos por tanto tempo e ter que contar sua história para ajudar outras vítimas. Para o diretor, este não é um filme político, e sim cidadão. Isso porque ele não propõe soluções, mas provoca questionamentos sobre a sociedade.

Felizmente, ou “Graças a Deus”, conhecemos essa história por Ozon, que se mantém fiel ao seu estilo e consegue criar uma narrativa instigante e inteligente ao mesmo tempo em que denuncia os abusos cometidos pela Igreja e confere visibilidade às vítimas.

O filme está em cartaz em São Paulo no Festival Varilux. Confira o trailer:

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