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Como funciona a criação de uma coleção de moda?

Imagem: Matheus Oliveira / Comunicação Visual – Jornalismo Júnior Por Maria Eduarda Nogueira (mariaeduardanogueira@usp.br) Quem vê as peças expostas nas vitrines, não imagina o extenso trabalho envolvido por trás. As etapas de criação de uma coleção de moda envolvem muito mais do que a simples vontade de criar uma roupa: a definição de um tema, a …

Como funciona a criação de uma coleção de moda? Leia mais »

Imagem: Matheus Oliveira / Comunicação Visual – Jornalismo Júnior

Por Maria Eduarda Nogueira (mariaeduardanogueira@usp.br)

Quem vê as peças expostas nas vitrines, não imagina o extenso trabalho envolvido por trás. As etapas de criação de uma coleção de moda envolvem muito mais do que a simples vontade de criar uma roupa: a definição de um tema, a escolha de tecidos, os croquis, os desenhos técnicos… todos esses aspectos rodeiam a vida de um estilista e precisam ser levados em consideração no momento em que se decide criar uma coleção.

Apesar de terem processos praticamente iguais de criação, as coleções podem ser divididas em dois grandes grupos: as comerciais e as conceituais. Raquel Melo, do canal Caneta & Grafite, explica essa diferença: “a conceitual é mais para carregar referências. Nos desfiles de moda, existem muitas coleções conceituais: elas carregam cor, tendências de tecido, de bordado e de caimento. Então, as marcas captam aquele conceito exibido para transformarem em coleções comerciais, que são as que vão vender”.

MET GALA 2018, com o tema “Corpos Sagrados: Moda e a Imaginação Católica” (Créditos: VOGUE US)

elas não provêm de setores necessariamente ligados à moda – os estilistas podem buscar referências na arquitetura, na religião, na tecnologia, como revelam os tradicionais bailes de gala do MET (Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque). Nesse icônico evento que ocorre anualmente em maio, os temas são definidos pela VOGUE dos Estados Unidos e buscam permitir, ao máximo, a expressividade dos estilistas em suas criações. No ano de 2018, a inspiração na religiosidade católica resultou na utilização de muitas pedrarias, por exemplo.  

Através deste brainstorming, os estilistas definem o tema de sua coleção. Para Gabriela Toscas, que estuda Moda na FAAP, essa escolha é a parte mais difícil, porém ressalta que isso é muito pessoal. A estudante, que também tem um canal no Youtube, comenta que “uma coleção nunca poder ser criada sob pressão, porque isso acaba limitando o que estamos vendo. A criação de uma coleção é muito mais uma inspiração, um momento seu, uma coisa tão única que é preciso estar bem relaxada para criar”.

(Moodboard para NYFW 2016 do designer Max Lu – Créditos: Fashion School Daily)

Com um tema definido, o próximo passo baseia-se na confecção do moodboard, que, em uma tradução literal, significa “quadro de humor”. Nele, o estilista aglomera as fotos, os tecidos, as paletas de cores, as texturas… enfim, tudo aquilo que remete à sua proposta e possa ajudar no processo criativo. Acerca dessa etapa, Gabriela diz que o moodboard é essencial, “porque é onde você vai conseguir ver as suas ideias”. Além disso, “você começa a enxergar as ideias que estavam na sua cabeça de uma outra forma, podendo te levar até uma outra proposta”.

Ainda dentro do planejamento da coleção, é comum a definição de famílias ou linhas. Essas divisões se baseiam em estilos, cortes, silhuetas e cores, e são pensadas para definir subtemas inseridos no tema-mor da coleção. Comercialmente, as linhas são criadas para atender o maior público possível, por isso, é comum vermos nas lojas sessões com roupas mais dia a dia, outras com roupas com mais glamour e assim por diante. Gabi resume: “As linhas ou famílias são divididas para mostrar propostas e estilos”.

A etapa seguinte baseia-se num conhecimento dominado pelas costureiras e alfaiates há tempos: a escolha dos tecidos certos. Raquel explica que primeiro é importante definir os tecidos e aviamentos para, posteriormente, pensar no desenho da peça. “Vamos supor: se eu for fazer um vestido rodado, tenho que pensar que aquele tecido que eu vou usar vai ficar rodado daquele jeito, ter aquele caimento”. O tecido, assim como todo o resto, deve conversar com a essência da coleção, uma vez que determinadas peças têm sua mensagem atrelada ao tipo de tecido que será usado. Um exemplo disso foi o vestido desenhado por Zac Posen e usado por Claire Danes no MET Gala 2016, que brilhava no escuro e estava seguindo o tema “Mão x Máquinas: Moda na Era da Tecnologia” à risca:

(O ousado e inovador vestido de Claire Danes literalmente brilhou no MET Gala – Créditos: VOGUE US)

Após definir os tecidos, a criatividade agora transita para o desenho dos croquis, que são diferentes dos desenhos técnicos. A dona do canal Caneta & Grafite, que possui diversos vídeos ilustrando peças de roupa, explica melhor essa diferença: “o croqui é o desenho na boneca, com movimento e cor, para mostrar para o cliente a ideia dele. Já o desenho técnico é usado dentro da fábrica. É um desenho que você faz geralmente no computador, sem cor, bem plano mesmo para a pessoa que vai produzir o molde entender todos os detalhes, inclusive colocamos se tem botão, onde tem costura e onde tem recorte”.

(Um dos croquis feitos por Raquel, criadora do canal Caneta & Grafite)

Com as peças prontas, é a vez do marketing atuar. Seja por meio de desfiles, editorias, vitrines bem produzidas ou, como é comum atualmente, mandando os lançamentos para as principais influencers. Essa etapa é muito importante, uma vez que ainda está dentro do projeto, que se inicia com a busca de inspirações. Gabi Toscas explica que, em um editorial, elementos como “o styling – a composição da roupa –, a maquiagem, a atitude e o biótipo da modelo, o cenário, a locação, o tipo de luz, têm que estar em harmonia com o estilo da coleção”.

E as coleções-cápsula?

Um conceito muito comum atualmente são as coleções-cápsula, que não devem ser confundidas com armários-cápsula – esse último é a redução do número de peças no seu guarda-roupa, a fim de propor um estilo mais minimalista e consciente.

O processo de produção se assemelha muito. Ainda é preciso buscar inspirações, desenvolver um bom projeto e moodboard e escolher os tecidos ideais. Essa coleção, no entanto, se diferencia por apresentar uma proposta diferente da coleção normal. Por isso, é comum convidar celebridades e influenciadores digitais para serem a inspiração-mor e o “rosto” da coleção, o que implica em uma atuação profunda do marketing. “É uma coisa mais para chamar atenção, para gerar venda”, explicita Raquel.

(Um exemplo bem-sucedido de coleção-cápsula da C&A com o casal do momento: Bruna Marquezine e Neymar Jr.)

A criação de uma coleção não é um processo simples. Envolve conhecimentos aprofundados não só sobre o mundo da moda, mas também sobre todo o contexto mundial. Gabi Toscas ressalta que a maioria dos desfiles tem um propósito por trás, desejando realçar ou abrir os olhos das pessoas para algo que está acontecendo no mundo

Portanto, é importante enxergar a moda como um fenômeno plural, que foge do estigma da futilidade.

1 comentário em “Como funciona a criação de uma coleção de moda?”

  1. Muito bom o texto, claro e explicativo!! Mostrou bem as fases da criação e composição de uma coleção !! Conseguiu simplificar o q é muuuuuito complicado ! Parabéns !!

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