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ENTREVISTA: Os que vieram antes de nós

“Os cinco primeiros minutos de um filme são cruciais na apresentação dos seus personagens, do roteiro que se desenrolará a seguir e na temática proposta. Ainda que outras experiências cinematográficas não se pautem assim, tentativas inversas só vêm para provar a regra dos cinco minutos.” Em 2009, quando foi lançada a primeira edição da Revista …

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“Os cinco primeiros minutos de um filme são cruciais na apresentação dos seus personagens, do roteiro que se desenrolará a seguir e na temática proposta. Ainda que outras experiências cinematográficas não se pautem assim, tentativas inversas só vêm para provar a regra dos cinco minutos.”

Em 2009, quando foi lançada a primeira edição da Revista do Cinéfilos, parecia correto recapitular o que havia sido feito para que núcleo chegasse até ali. A frase acima, tirada do editorial da revista, introduz uma breve história do Cinéfilos desde o seu nascimento até a nova fase que começava.

Hoje, na semana do nosso décimo aniversário, nada mais justo do que fazer o mesmo. Para isso, fomos até quatro ex-membros da redação para buscar entender o que era o Cinéfilos em seus primeiros anos, no que se transformou e tudo o que pode vir a ser daqui pra frente.

Do blog ao site

“No meu primeiro ano todo mundo da minha sala queria fazer jornalismo cultural”. Ricky Hiraoka, hoje roteirista e jornalista aos 28 anos, iniciou em 2007 sua experiência na Jornalismo Júnior — empresa formada por estudantes de jornalismo da Universidade de São Paulo. “A gente via muito a Jota como complemento da nossa graduação. Era onde a gente podia ter algum contato com o mercado”. Na época, blogs que falavam sobre cinema já eram bastante comuns; a popularidade e praticidade deste modelo possibilitaram o nascimento do primeiro projeto de jornalismo cultural na empresa, que só ganharia o nome de “Cinéfilos” um pouco mais tarde.

Entretanto, como até hoje acontece, não era fácil conseguir reconhecimento utilizando o formato de blog — ainda mais um que era todo feito por estudantes. Por isso, a partir de 2007, teve início um esforço para “profissionalizar” a Jota: “Nisso, eu me voluntariei para fazer o Cinéfilos, e dei esse nome”, lembra Ricky. “Eu lembro de ter um comprometimento de todo mundo. Era uma galera boa, que tava realmente interessada em fazer acontecer […]. A Jota era meio que um complemento das nossas atividades [da graduação], e a nossa intenção era fazer um trabalho decente com a empresa”.

A ideia era criar um site mais sério de cinema, que pudesse abrir oportunidades para a empresa, indo ao encontro de outras mudanças estruturais pelas quais ela passava. Da mesma forma, buscavam ampliar os temas e assuntos abordados para além das resenhas de filmes, que até então eram praticamente o único conteúdo explorado no blog. Assim, ao mesmo tempo que se tentava buscar mais convites para cobrir coletivas de imprensa e eventos, também foram criadas novas editorias para falar sobre cinema de forma ampla e utilizando diferentes estilos, como Personagem, que existe até hoje, ou as extintas Deu Fome, Trilha Sonora e Túnel do Tempo, homenageadas no nosso especial de 10 anos. E foi com essa proposta que em 2008 o Cinéfilos virou um site.

“Cinéfilos”, a revista

Outra inovação que surgiu junto com os esforços de abordar cinema de uma maneira mais ampla foram os especiais. A ideia deles era reunir matérias com um conteúdo temático. Bruna Buzzo, que fez parte do projeto entre 2008 e 2009, conta que eles logo se tornaram o “xodó” da equipe: “Às vezes as pessoas nem queriam ir na cabine, porque queriam ficar fazendo a matéria especial”. Tanto no estilo de texto como na proposta de trazer diferentes produções em torno de um mesmo tema, os especiais funcionavam de forma bem semelhante a de uma revista periódica.

Por isso, faz todo sentido que logo em seguida tenha surgido também a Revista do Cinéfilos, e outra pessoa que participou do processo foi Felipe Maia, que também era um dos editores, e atualmente cursa mestrado em etnomusicologia. Ele, na época também responsável pela parte de arte da Jota, ajudou a desenvolver o projeto gráfico da revista, que simulava uma versão impressa mas era disponibilizada online.

A revista contou com nove edições ao todo, que ainda podem ser visualizadas na internet. Paulo Fávari, que fez parte da gestão em 2011, explicou mais como era a dinâmica da colaboração entre os membros da época. “Era bem melhor fechar a ‘Cinéfilos’ do que os laboratórios (São Remo, Jornal do Campus, Claro, etc.), e bem mais livre tanto na parte prática quanto nas relações de trabalho. A faculdade era obrigação, na revista Cinéfilos a gente se divertia”. Esse ambiente descontraído acabou sendo a característica proporcionada pela revista mais lembrada por Paulo, que lamenta o fim das edições: “O sentimento era de um coletivo, todo mundo se juntava e dali saíam ideias maravilhosas que não estavam planejadas”.

Um “por quê”

Cumprindo um de seus principais objetivos de quando foi criado, o Cinéfilos foi grande provedor de aprendizado para muitos dos que passaram por ele. Mesmo não trabalhando na área de cinema, alguns dos entrevistados citaram a importância que a experiência no núcleo os proporcionou mesmo assim. É o caso, por exemplo, de Paulo, que hoje em dia trabalha com teatro mas relembra dos conhecimentos adquiridos em design, principalmente com softwares como o Photoshop e o InDesign.

Felipe também, depois do Cinéfilos, nunca mais se envolveu com jornalismo de cinema, mas continuou trabalhando com cultura. Ele, que passou pela MTV e Revista Trip, acredita que o fato de o núcleo ser voltado para certo nicho não atrapalha o desenvolvimento de habilidades jornalísticas no geral. “Foi muito legal fazer parte desse projeto, justamente porque ele dava uma ideia do que era essa imprensa. Acho que foi uma das primeiras experiências, pra muita gente, do que era trabalhar com jornalismo – nesse caso, jornalismo cultural”, comenta.

Por outro lado, Bruna resume o que é a experiência do Cinéfilos através de um conselho para as gestões futuras: “O que eu acho legal do Cinéfilos é que serve justamente pra experimentar, dá pra você experimentar todas as potencialidades de um conteúdo digital”. Nesse sentido, ela reconhece as evoluções atingidas ao longo dos anos, mais reitera que muito ainda pode ser feito. Naquela época o aprendizado foi sobre conquistar o seu lugar, e pensar que existe um lugar para nós nesse cenário da crítica cultural, e de aprender algo que quem continua no jornalismo um dia vai ter que aprender: dar a cara a tapa, ligar para assessorias, fontes, ir atrás, não ter vergonha”. Não sentir-se intimidado pela infinidade da profissão diante de si é extremamente importante para o jovem protojornalista. 

“O ambiente da crítica cultural assusta bastante. Tem muita gente que já está nisso há muitos anos, [nas cabines] sempre vai ter o “crítico velho” […], eu suponho que deve ser assim até hoje. Tem aquele pessoal que se encontra, e todos eles se conhecem e são críticos de cinema há dez, vinte anos, e você não conhece ninguém, chega lá “novinho” de tudo […]. Mas, ao mesmo tempo, a gente tinha um retorno de audiência no site. Tinha pessoas acessando o conteúdo e interagindo com a gente, que gostavam do que a gente escrevia. E aí entendíamos que tinha um “porquê” no que a gente fazia, e não tinha motivo pra se sentir excluído.”

por MaJuBru
souza.matheus@usp.br
jusantosgoncalves@gmail.com
brunomenezesbaraviera@gmail.com

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