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“Submersão” é como afogar-se em águas rasas

Como pode perceber, o novo filme de Wim Wenders, Submersão (Submergence, 2018) fala muito sobre água. Num romance bastante acentuado, mas que também tenta ser sobre aventura, espionagem e guerra, o que temos é um longa que se afoga em um enredo excessivamente bagunçado – e qualquer mensagem que poderia existir por trás dele morre …

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Como pode perceber, o novo filme de Wim Wenders, Submersão (Submergence, 2018) fala muito sobre água. Num romance bastante acentuado, mas que também tenta ser sobre aventura, espionagem e guerra, o que temos é um longa que se afoga em um enredo excessivamente bagunçado – e qualquer mensagem que poderia existir por trás dele morre na praia.

O eixo principal da história está em dois personagens que, apesar de amarem-se, encontram-se em circunstâncias que não os permitem ficar juntos. É o velho clichê dos star-crossed lovers, o amor impossível, numa tentativa de atualização.

A cientista Danny Flinders, interpretada por Alicia Vikander, está em preparação para uma missão inédita na biologia marinha, que envolve sua submersão a mais de 10 mil metros abaixo da superfície oceânica – onde não há luz, e, até onde se acredita, nem vida. N’outro lado do mundo, o agente do Serviço Secreto de Inteligência britânico James More – vivido por James McAvoy – está prestes a embarcar numa missão anti-terrorismo na Somália, onde terá de manter um disfarce de engenheiro hídrico diante de milícias jihadistas.

Ambos se encontram num perfeito acaso em um resort de luxo na costa francesa, e apaixonam-se no curso de três dias juntos – tempo suficiente para tempo suficiente para se conhecerem profundamente, do encanto à decepção um com o outro. No entanto, o tempo acaba, e cada um é levado a lugares e circunstâncias que não poderiam ser mais distintas entre si.

James e Danny em uma de suas várias longas caminhadas pela costa francesa. (Imagem: Divulgação)

É extremamente frustrante como Submersão acaba sendo um filme ruim. Isto porque, em seus primeiros momentos, tudo parece estar bem encaminhado.

Wenders produz um cenário de tirar o fôlego e uma fotografia impecável – as cenas no resort transparecem um conforto necessário para criar o “lugar seguro” do casal, enquanto as imagens de Danny em seu espaço de trabalho e James preso em diferentes locações da Somália trazem a claustrofobia e o drama que o enredo pede.

Vikander e McAvoy, ambos já consagrados e formando uma dupla fotogênica, transmitem atuações sólidas e uma química bastante crível – embora não muito emocionante.

Tudo está encaminhado para um belo romance dramático. Infelizmente, não acaba aí.

A segunda metade da obra a divide em quase que dois filmes distintos, desesperadamente tentando traçar paralelos entre si.

Danny está em meio ao mar da Groenlândia, tentando ocupar-se com seu trabalho para amenizar a saudade que sente do amado – porém ainda gastando um tempo considerável tentando, em vão, contatá-lo, e ponderando se seu sumiço indica que ele não mais se interessa por ela. Estranhamente, ela não parece considerar que algo possa ter acontecido com James.

E, na realidade, muita coisa acontece com James. Enquanto o desenvolvimento da história de Danny basicamente se apoia na sua rotina de trabalho e preparação para a missão final – numa montagem de cenas bastante repetitivas e desinteressantes -, uma nova dificuldade parece surgir a cada dia para o agente. Ele é imediatamente capturado ao chegar na Somália, e, a partir daí, é encarcerado em vários calabouços escuros, onde tenta manter sua sanidade; é quase morto diversas vezes; conhece os maiores líderes jihadistas da região e consegue recuperar uma frágil estabilidade ao reforçar seu disfarce de engenheiro hídrico.

Wenders se distrai de seu plano original aqui, quando o longa parece importar-se muito menos com o drama da separação do casal – e com o próprio arco de Danny – e muito mais com tecer críticas sociais ao retratar o terrorismo islâmico. No entanto, nem isso é feito de maneira completa. A abordagem é extremamente superficial e uma que já vimos diversas vezes – apresentando a dicotomia entre pequenos atos de bondade e demonstrações de fé dos jihadistas, e sua crueldade e violência com exércitos e civis. E, obviamente, More está bem no meio disso, encarnando uma clara vítima com sua moralidade intacta. Poderíamos sobreviver sem mais uma história destas.

James como o típico herói branco europeu, à mercê da violência terrorista. (Imagem: Divulgação)

Ao tentar abordar pontos demais – a ciência mal explicada e um pouco estereotipada trazida por Danny, o êxtase em apaixonar-se no curso de poucos dias, a dor de um amor impedido pelas circunstâncias e o perigo, medo e as conturbadas relações sociais em meio à grupos terroristas -, Submersão acaba sendo superficial em tudo o que propõe.  Há uma tentativa de amarrar seus polos através de paralelos entre a solidão dos personagens, seu amor e algumas metáforas forçadas relacionadas a água – muito como as deste texto. Elas falham.

O que poderia ter sido um bem feito romance dramático, aproveitando todo o potencial da relação entre Vikander e McAvoy e imergindo no íntimo de cada personagem, terminou indo por água abaixo.

 

Submersão chega aos cinemas em 12 de abril. Confira o trailer:

Por Juliana Santos
jusantosgoncalves@gmail.com

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