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Singularidade Tecnológica: quando as máquinas superam os humanos

Avanços acelerados na inteligência artificial abrem portas para cenários inéditos na humanidade Por: Bruno Carbinatto (brunocarbinatto@gmail.com) Controlando seu GPS, gerindo sua conta bancária, administrando o sistema financeiro e até realizando cirurgias. A inteligência artificial (também conhecida como IA) está presente em diversos setores das nossas vidas, mesmo que não a vemos. Vivemos em uma era cada …

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Avanços acelerados na inteligência artificial abrem portas para cenários inéditos na humanidade

Por: Bruno Carbinatto (brunocarbinatto@gmail.com)
créditos: Daniel Medina

Controlando seu GPS, gerindo sua conta bancária, administrando o sistema financeiro e até realizando cirurgias. A inteligência artificial (também conhecida como IA) está presente em diversos setores das nossas vidas, mesmo que não a vemos. Vivemos em uma era cada vez mais tecnológica, e cientistas prevêem mudanças radicais no nosso estilo de vida em um futuro próximo. A grande questão é: como?

A hipótese da Singularidade Tecnológica analisa o desenvolvimento desenfreado da inteligência artificial e prevê que esta pode ultrapassar a inteligência humana em pouco tempo. Autores se dividem quanto às consequências desse fenômeno, mas é certo que elas podem ser as mais variadas possíveis, e até assustadoras.

Máquinas inteligentes?

Mas afinal, o que é inteligência artificial? “É muito difícil definir ‘inteligência’ com precisão; por isso a definição de ‘inteligência artificial’ é um tanto vaga”, explica Fabio Gagliardi Cozman, professor de engenharia da Escola Politécnica (POLI-USP). “Existem esforços em duas direções: simular através de computadores o comportamento de seres inteligentes, com foco maior em seres humanos, e construir artefatos que não necessariamente simulam o comportamento humano mas que tem comportamento racional diante de situações específicas.”

É difícil para nós conceber como um simples computador pode ser inteligente, principalmente pelo fato de associarmos a inteligência com a consciência. É fato, porém, que a capacidade de máquinas de assimilar e reproduzir padrões, calcular estatísticas e tomar decisões baseadas em números existe – e pode ser melhor que a nossa. “Em 1997, o robô Deep Blue venceu o líder mundial Kasparov no jogo de xadrez; em 2016, o Alpha Go bateu vários campeões no jogo Go, um jogo de tabuleiro com complexidade maior que o xadrez”, conta o professor de Inteligência Artificial da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH-USP) Valdinei Freire.

Estaríamos assistindo a substituição total do homem pela máquina? Essa dúvida filosófica perdura por décadas, mas uma análise da história da ciência pode esclarecer melhor o contexto.

Desenvolvimento desenfreado e o Teste de Turing

A principal base da hipótese da Singularidade Tecnológica é a da “explosão de inteligência”, enunciada pela “Teoria das mudanças aceleradas”. Em suma, a teoria diz que as inovações tecnológicas e cibernéticas têm crescido em ritmo de progressão geométrica: isso porque a criação de uma determinada tecnologia permite que outras sejam criadas mais fácil ou rapidamente, inclusive criando-as diretamente, gerando uma reação em cadeia: “Uma vez programado, dependendo do tipo de sistema, este pode facilmente coletar informação de forma independente. Então, o conjunto pode desenvolver-se independentemente de um ser humano. Podemos ainda considerar que um sistema pode gerar outro, se assim ele foi programado para fazê-lo”, exemplifica Freire.

Nesse sentido, estaríamos vivendo em uma efervescência científica tão acentuada que em menos tempo do que esperamos poderíamos ter toda nossa ordem social alterada pelas máquinas. A teoria, no entanto, não elenca se isso seria positivo ou negativo: só inimaginável. Afinal, vivemos num mundo totalmente antropocêntrico, e só a ideia de não sermos o principal ator da ordem social nos é distante.

Uma forma de imaginar esse mundo é através do Teste de Turing. Desenvolvido pelo cientista britânico Alan Turing em 1950, o processo é relativamente simples, mas de extrema importância. “Resumidamente, perguntas seriam feitas a máquina e a participantes humanos e se um juiz não conseguisse identificar qual dos respondentes não era o humano, então a máquina teria passado no teste.”, explica Luciano Digiampietri, professor de Sistemas da Informação da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH-USP).  

De certa forma, viveríamos em um mundo onde não seria possível distinguir máquina de humanos, nem o trabalho de um ou outro. O desconhecido desse cenário suscitou material para o imaginário popular e ficcional do século XX e XXI, que questionam a tecnologia como fator de mudança e progresso.

Entre a realidade e a ficção

Grandes clássicos da ficção científica trabalharam com o conceito de um mundo singularmente tecnológico. É o caso de “2001: Uma odisséia no espaço”, de Stanley Kubrick, “Eu, robô” e diversos outros livros de Isaac Asimov, e, mais recentemente, da série britânica Black Mirror. De todo modo, os cenários não são otimistas: distopias em que máquinas se “rebelam” contra os homens fazem sucesso, e associam a singularidade tecnológica, necessariamente, a um cenário de caos.

Apesar disso, há problemas mais concretos para nos preocuparmos. “Uma questão é como controlar a privacidade dos nossos dados, diante de equipamentos com grande capacidade de coleta de dados. Outra questão é como evitar que um defeito em um particular equipamento gere decisões equivocadas, causando desastres. Se, diante de um imprevisto, uma máquina tiver que optar por dois diferentes danos, qual deverá ser escolhido?”, exemplifica o docente Cozman. A legislação sobre as máquinas são ainda mais preocupantes: se um robô cometer um erro, de quem é a culpa legal?

Acima de tudo, um problema que ronda a humanidade há séculos pode se acentuar ainda mais: o desemprego. “Nas próximas décadas, creio que milhões (ou talvez bilhões) de trabalhos no mundo passarão a ser desenvolvidos por máquinas, extinguindo milhões ou bilhões de postos de trabalho.” diz Luciano Digiampietri. “Obviamente, existe a possibilidade da criação de novos empregos para humanos, mas ainda não sabemos quais e quantos serão. Como na maioria das mudanças tecnológicas do último século, é bastante provável que os mais pobres sofram mais com essas mudanças.”

No campo político social, deve-se pensar também na IA como uma extensão da cultura vigente, considerando que pode ser usada para reproduzir discriminações e desigualdades. “Por exemplo, a maioria das pessoas presas são de origem pobre e negra, muito provavelmente por conta de nosso sistema judicial e policial, um sistema com base nesses dados reproduziria esse preconceito”, explica o professor  Freire. “Outro exemplo é que a maioria dos diretores de empresas são brancos e homens, mas isso de forma alguma indica que homens brancos possuem maior capacidade para dirigir uma empresa.”

Novas perspectivas

Apesar da hipótese da Singularidade Tecnológica, não se deve enxergar a tecnologia como uma vilã, necessariamente. “Se os sistemas inteligentes forem programados, ou de alguma forma “aprenderem” que devem dominar o planeta, eliminando o ser humano, então eles provavelmente serão bastante efetivos em fazer isso. Por outro lado, é possível que eles aprendam que devem cuidar do planeta.”, diz Digiampietri. “A ironia é que, eventualmente, talvez elas se tornem exemplos a serem seguidos pelas pessoas (para o bem da humanidade)”.

O avanço tecnológico é uma realidade que devemos lidar de uma forma ou de outra. A inteligência artificial deve ser desmistificada do discurso ficcional e debatida na nossa realidade. “A sociedade tem sido afetada pelo avanço tecnológico há milênios; estamos hoje diante de novas tecnologias que avançam com grande rapidez e que merecem debate. Creio que a sociedade precisa ser informada sobre os benefícios da tecnologia (por exemplo, maior produtividade) e dos riscos (por exemplo, possíveis acidentes), para que os benefícios possam ser explorados e os riscos possam ser evitados.”, finaliza Cozman.

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