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O ciberativismo e o que aprendemos desde 2011

Integrante do grupo Anonymous conversou com a Jornalismo Júnior sobre a influência das redes nos grandes movimentos sociais e que legado Junho de 2013 nos deixou Por: Daniel Miyazato (danielmiyazato@gmail.com) A segunda década do século XXI começou bastante agitada e a internet participou, se não como protagonista, como um instrumento notável. Episódios que seguem desde …

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Integrante do grupo Anonymous conversou com a Jornalismo Júnior sobre a influência das redes nos grandes movimentos sociais e que legado Junho de 2013 nos deixou

Por: Daniel Miyazato (danielmiyazato@gmail.com)

A segunda década do século XXI começou bastante agitada e a internet participou, se não como protagonista, como um instrumento notável. Episódios que seguem desde a Primavera Árabe até as Marchas de Junho no Brasil, passando por Occupy Wall Street, Anonymous e pelos vazamentos de informações secretas do Wikileaks, demonstram o quão rápidos e intensos movimentos sociais podem se tornar com o auxílio da web. Entretanto, após este promissor despontar, quando parecia que pessoas comuns revolucionariam a política e a sociedade, os mecanismos que regem as ordens nacionais e supranacionais continuam essencialmente os mesmos. Afinal, o ciberativismo ainda vai salvar o mundo?

Entre dezembro de 2010 e março de 2011, regimes ditatoriais de décadas da Líbia, da Tunísia e do Egito foram desmantelados. As grandes manifestações de massa ressurgiam, agora com uma nova ferramenta. Uma ferramenta que permite comunicação em tempo real com pessoas do mundo todo, dificilmente censurada ou monopolizada. Conquanto não há um consenso entre os especialistas a respeito da real influência da internet durante tais protestos, a velocidade dos acontecimentos foi, por certo, vinculada a velocidade do tráfico de informações. A reação da opinião pública internacional também corroborou os movimentos. Imagens de violência policial corriam o mundo. Enquanto um lado tinha balas – nem sempre de borracha – o outro tinha celulares e câmeras de vídeo.

A situação atual destes países continua instável, a democracia que grande parte da população clamava, ainda lá, só é vista pela tela de um computador. O sistema financeiro mundial continua injusto e sem sérias perspectivas de mudança mesmo depois da ocupação de Wall Street. O Brasil está imerso em numa grave crise política e econômica apesar dos milhões que marcharam em 2013. Seria, no entanto, anacrônico chamar estas mobilizações de ingênuas. Durante um curto período, pode-se vislumbrar um sistema de participação social totalmente colaborativo, o que gerou grande impacto no imaginário da época.

Imagem: Daniel Miyazato
Imagem: Daniel Miyazato

Neste mesmo período, uma comunidade de hackers autodenominada Anonymous também se destacou. Originada de um dos fóruns mais antigos da web, o 4Chan, o grupo ganhou fama ao derrubar sites de grandes corporações como o da Igreja da Cientologia, da Visa e da Mastercard, por meio de ataques “DDoS” – basicamente criando um afluxo de acessos simultâneos que sobrecarrega o servidor alvo. Estes hackativistas sempre contextualizam as operações numa luta contra, o que eles consideram, uma iniquidade. Desde então o movimento continua se disseminando pelo mundo.

O integrante do grupo Anonymous Brasil, @checommodore, concedeu entrevista a Jornalismo Júnior:

JJr: Qual o principal objetivo do Anonymous?

@checommodore: Eu acho que a nossa principal tarefa é a conscientização. Não é mudar país, não é tirar governo, é mudar a pessoa. Nosso principal foco são as pessoas. E a gente acredita muito em uma sociedade anarquista, porque prezamos muito pela liberdade. Uma sociedade anarquista, um anarco-comunismo tecnocrata.

JJr: Em que medida o Anonymous influenciou as Marchas de Junho?

Quando chegou 2013, eu achei que finalmente as pessoas parariam de ver TV e que agora tínhamos uma oportunidade de falar com a galera. Só que, logo em seguida, estávamos usando a ferramenta do Facebook, que limou totalmente o nosso alcance. Sua página pode ter 1 milhão de seguidores, sua postagem vai ter um alcance ridículo se você não pagar. Não podemos pagar. Bem no começo, antes do primeiro ato, vimos que quando ajudávamos na divulgação criava-se um “boom!”. Mas depois, meio que começava a caminhar sozinho, a gente ajudando ou não, tanto fazia. Então, eu não acho que sem nós não teria acontecido — teria, só que demoraria um pouco mais, talvez.

No final, para mim, 2013 foi impulsionado pela mídia tradicional mesmo. Tivemos nosso alcance, mas acho que foi uma consequência da exposição da mídia tradicional. Hoje, temos cinco postagens por dia, todos os dias, e não temos alcance. As pessoas simplesmente não recebem nossas mensagens mais. Nós estamos assim tentando entender como está nosso processo de comunicação para ver como a gente pode fazer. Hoje continuamos ativos, células estão crescendo, estão surgindo novas, só que a nossa comunicação está muito ruim. É um ponto que estamos tentando resolver, só não sabemos como.

JJr: Existe uma bandeira ideológica no movimento?

Se você parar para pensar em tudo que Anonymous fez no mundo todo, ela lutou contra religião, lutou contra capital, lutou contra o Estado, promovendo liberdade, isso são pilares do anarquismo, do anarco-comunismo ou do anarquismo sem o capitalismo. Então, se você acha que anarquismo é de esquerda, Anonymous é de esquerda. Tem gente que acha que anarquismo não é de esquerda, porque vê a esquerda como um Estado forte. Eu não tenho problema nenhum em falar que Anonymous é de esquerda.

Inevitável

Nas últimas semanas, o anúncio de que grandes empresas de telecomunicação do Brasil irão instituir limites de franquia para a internet fixa causou grande repercussão nas redes sociais. “Eu acho que as pessoas vão se fechar cada vez na bolha. Elas vão priorizar aquilo que lhes dá um retorno mais agradável, onde a voz delas ecoa”, desabafou @checommodore.

Quanto maior a distância deste primeiro momento de euforia, melhor a compreensão dos acontecimentos. Embora seja cedo para qualquer discurso assertivo, é possível perceber que à medida em que a humanidade se integra às novas tecnologias, maior é a influência do que ocorre em dimensões virtuais no mundo real. 2011 foi o ano em que esta perspectiva deixou de ser exclusiva de um nicho de tecnocratas e se espalhou para o público em geral.

O ciberativismo pode não ser a resposta que muitos acreditavam que seria para as mazelas do mundo globalizado, mas, certamente, será fundamental para que qualquer grande transformação ocorra tanto nesta geração quanto nas vindouras.

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