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Por que temos uma queda pelo ciberespaço?

Descubra porque nosso inconsciente tem uma atração “quase gravitacional” pelo mundo digital Por Ana Carolina Aires (airesanacarol@gmail.com) A tecnologia desperta cedo. O brilho da tela do celular é o primeiro que se vê ao raiar do dia. Desbloqueada a tela, Facebook, Whatsapp, Twitter são checados antes mesmo de apreciar – muitas vezes, às pressas – …

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Descubra porque nosso inconsciente tem uma atração “quase gravitacional” pelo mundo digital

Por Ana Carolina Aires (airesanacarol@gmail.com)

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Fredy Alexandrakis | Jornalismo Júnior

A tecnologia desperta cedo. O brilho da tela do celular é o primeiro que se vê ao raiar do dia. Desbloqueada a tela, Facebook, Whatsapp, Twitter são checados antes mesmo de apreciar – muitas vezes, às pressas – um regular café da manhã. E ao contar, ansiosos, o número de curtidas na recém postada foto, ao visualizar as centenas de comentários, ao constatar a repercussão de um post, ao receber uma mensagem exageradamente cheia de emoticons repletos de expressão, as pessoas sentem-se no ápice do bem-estar e realização. Como o ciberespaço criaria esse ambiente aparentemente tão aconchegante, atrativo e viciante?

Para o criador da Nova Teoria da Comunicação e Prof. Dr. da USP, Ciro Marcondes Filho, o mundo digital passa a impressão de ser asséptico, pasteurizado, sem micróbios e, de forma utópica, aparenta não ter nada de negativo. Por aparentar-se tão agradável, torna-se convidativo. “A ideia do ciberespaço é a de que você, hoje, pode ‘acontecer’ como outras pessoas, como a imprensa. O que não é, necessariamente, verdade”.

Ciro afirma que o mundo digital, apesar de proporcionar ferramentas para expressão, é ilusório. Isso porque a participação comunicacional não é apenas o direito ao uso das tecnologias, é também a capacidade de, com ela, poder repercutir, o que não ocorre de maneira profusa. “Existe uma quantidade muito grande de vozes e pouca gente querendo ouvir. Há uma sobrecarga de falas, discursos, opiniões que são colocadas na rede e que brigam e debatem-se o tempo todo por audiência. Há uma pulverização muito grande de todas as opiniões”, explica.

Se para Ciro as redes têm feito com que as pessoas se digladiem inconscientemente, para Adriana Vilano Dinamarco, mestre em Psicologia Clínica pelo IP-USP, o que acontece é o oposto. Adriana acredita que “é no mundo cibernético que as pessoas se sentem mais recepcionadas, uma vez que elas encontram ecos para suas vozes. Minha voz acaba escutando uma voz parecida que nada mais é do que um eco”, afirma Adriana.

A psicóloga especialista em adolescentes e ciberespaço defendeu, em 2011, a tese de mestrado a respeito de um grupo de automutilação que falava abertamente sobre isso no Orkut. Para ela, “na internet há a possibilidade de contar para alguém sobre sua vida e, acima de tudo, fantasiar a respeito das pessoas. Nela, as pessoas podem se ouvir mais, se acolher mais”.

Fredy Alexandrakis | Jornalismo Júnior
Fredy Alexandrakis | Jornalismo Júnior

Entretanto, Adriana ressalta que quando estamos na internet, estamos lidando com o inconsciente das pessoas. “Na internet você transforma-se naquilo que você gostaria de ser, mas, ao mesmo tempo, você é aquilo e nunca deixa de ser. A transfiguração do corpo físico para o corpo cyber – esse corpo de extrema aparição online –, por mais que seja parte de um show, esse show faz parte de quem você é”. Adriana considera as construções cibernéticas do “eu” como parte da vida contemporânea e as relações humanas meio ao digital como sinceras e tão reais quanto “ao vivo”.

Em contrapartida, Ciro escreve em seu livro O Rosto e a Máquina que “os efeitos do presencial não podem ser recuperados pela tela, porque […] os aparelhos em momento algum conseguirão captar […] a percepção da energia pessoal, da força interna de cada um, de seu élan próprio” (p. 54). Completa, posteriormente, citando uma análise de Florian Rötzer que afirma que “os homens estão ‘presos à encenação’, sem se darem conta de que se trata de uma prisão” (p. 87). A encenação seria, para Ciro, uma metáfora para essa vida cibernética alheia a vida tida como “real”.

Afinal, pertencimento a quê?

A ideia de um mundo digital híbrido é dúbia. O amplo acesso é garantido e comprovado, mas sua utilização de forma interina é controversa. Quando se tratando da vida pessoal, para um círculo mais restrito de pessoas, Adriana considera que a internet possibilita, sim, uma maior interatividade e relacionamento. Ciro analisa, por outro lado, a interação humana em âmbito mais sociológico e considera que aqueles que têm voz na Era Digital são os mesmos que teriam voz sem a utilização de tais ferramentas, não democratizando sua funcionalidade.

A sensação de “pertencimento online”, entretanto, está vinculada a sociedade contemporânea que é baseada na relação Imagem x Aparição. Assim como a acumulação cultural na época da Belle Époque era forma de pertencer à sociedade do final do século XIX, estar imerso no mundo digital é, hoje, uma das formas de sentir-se parte integrante da convivência, de uma rede de amigos, de uma comunidade e então, inevitavelmente, parte integrante de uma coletividade social.

É certo que o digital e tecnológico se enraizaram nas estruturas do mundo técnico-científico-informacional e tornaram-se, hoje, indissociáveis da vida das pessoas. Submetemos nossas vidas a esses meios de forma a nos “prender a encenação” da contemporaneidade ou de forma a encenar conforme “o espetáculo da vida”. Contudo, o que atrai quase que gravitacionalmente o ser humano para o ciberespaço, no final das contas, é a busca incessante por conexões.

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