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Procura-se um lar

Por Marina M. Caporrino (marinamcapo@gmail.com) No cenário urbano, além da presença de carros, pedestres e prédios, há uma figura que é constante: os animais. O abandono e o maltrato de cães e gatos virou projeto de lei aprovado pela Câmara dos Deputados no mês de abril. A lei visa diminuir o alto número de abandonos, …

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Por Marina M. Caporrino (marinamcapo@gmail.com)

No cenário urbano, além da presença de carros, pedestres e prédios, há uma figura que é constante: os animais. O abandono e o maltrato de cães e gatos virou projeto de lei aprovado pela Câmara dos Deputados no mês de abril. A lei visa diminuir o alto número de abandonos, assim como proteger os animais de atos cruéis. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou, em 2014, que apenas no Brasil existem 30 milhões de animais abandonados: 20 milhões de cachorros e 10 milhões de gatos. Esse número é preocupante já que não há demanda suficiente para a adoção.

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Animais de raça são vendidos a preços abusivos enquanto “vira-latas” permanecem abandonados. (Imagem: Reprodução)

A dificuldade para ser adotado aumenta se o animal for adulto, de pelagem preta, doente ou deficiente, de grande porte ou apenas considerado “feio”. No Centro de Controle e Zoonoses (CCZ), na região norte de São Paulo, existem cachorros que foram recolhidos das ruas pela prefeitura  e aguardam há sete anos pela adoção! Muitas Organizações Não Governamentais (ONGs) e abrigos tomaram para si a responsabilidade de resgatar animais da rua e tratar deles, procurando pessoas que os adotem depois. Entretanto, como o número de abandonos é alto, muitos abrigos estão lotados e não divulgam seu endereço, para evitar abandonos em suas portas. Além disso, essas organizações não recebem nenhuma ajuda governamental, dependendo de doações e voluntários para manter suas atividades e pagar os tratamentos veterinários, castrações e vacinas.

Susan Yamamoto, uma das fundadoras da ONG Adote um Gatinho, explica que as dificuldades de manter uma ONG de adoção de animais não são apenas financeiras: “Há dificuldade emocional. É difícil negar ajuda, mas existe um limite e não é possível socorrer todos os que precisam. É difícil também lidar com os seres humanos que abandonam, maltratam, e acham que as ONGs têm obrigação de aceitar todos os animais descartados.”

Quando resgatados, a maioria dos animais estão doentes, sujos e desnutridos. Apesar de muitos serem filhotes e não sofrerem tanto com os traumas do abandono que viveram, adultos também são resgatados e chegam maltratados e traumatizados. Essas sequelas podem ser físicas (como cicatrizes) e emocionais, havendo um grande número de animais deprimidos e ariscos, não permitindo muito contato com os outros animais e com os humanos. Esses animais, provavelmente, passarão muito tempo nos abrigos, pois não fazem o perfil de bichinho que a maioria das pessoas deseja (filhote e dócil, principalmente). A melhor forma para diminuir o número de animais abandonados na rua, segundo Susan, é a castração: “A solução é trabalhar a castração em massa. Tanto dos animais sem dono, que vivem nas ruas, quanto das pessoas que não podem pagar por ela e acabam abandonando os filhotes.”

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Animais traumatizados, além de serem ariscos com os humanos, atacam outros animais nos abrigos e às vezes são mantidos separados. (Foto: Marina M. Caporrino)

Após serem adotados, diversos animais mudam totalmente, tornando-se mais felizes, ativos e carinhosos. Mas, para muitos animais a sorte não é duradoura. Apesar de parecer uma ideia inconcebível, existem pessoas que adotam um animal e depois o abandonam novamente. Isso ocorre por vários motivos: a falta de paciência com o temperamento ou com o comportamento do bichinho, o arrependimento de ter adotado, a falta de planejamento, entre outras coisas. Além disso, o número de abandonos de animais que já tem donos aumenta nos primeiros meses do ano, pois as pessoas saem para viajar, não têm  com quem deixar o animal e o abandonam!

Devido a isso, diversas ONGs têm um regulamento para a adoção bem severo. Assegurar-se que o animal não será abandonado depois faz parte do trabalho desses voluntários, assim como garantir que os animais terão boas condições na nova casa. Por exemplo, garantir que um apartamento que receberá um gato tenha as janelas teladas, ou que um cão de grande porte tenha espaço para correr e não fique apertado em uma residência pequena. Além desses critérios estipulados pelas ONGs, a pessoa que se interessa em adotar deve, antes de tudo, levar todos os aspectos da adoção em consideração e pensar sua vida com o novo amigo. Se  qualquer dúvida surgir, a ideia deve ser reconsiderada. Susan exemplifica alguns tópicos a serem pensados na hora de adotar: “Se a pessoa vai ter tempo para se dedicar ao animal, se tem condições financeiras para arcar não só com uma ração de qualidade e vacinas anuais, mas também para eventuais emergências médicas. Fora isso, deve-se pesar o que a pessoa vai fazer se engravidar, se descobrir que tem alergia, se tiver que se mudar, se o proprietário da casa permite animais, etc.”

QUERO ADOTAR

A pessoa que já tem certeza absoluta que quer e pode adotar um animal possui  diversas opções na hora de escolher o lugar e o animal. Abrigos e ONGs disponibilizam as fotos dos animais nos sites – muitas não fazem feiras por considerarem prejudiciais aos animais – além de feirinhas de adoção periódicas que acontecem pela cidade. Os animais esperando por um novo dono vão desde filhotes, até adultos e idosos, além das diversas cores de pelagem. São diversos gatos, cachorros e até mesmo coelhos que procuram por adoção responsável. Algumas organizações cobram uma taxa pequena, para ajudar com a castração e vacinação de outros animais, outras não cobram nada, mas todas tentam se certificar de que o interessado possa oferecer as condições de segurança e vida básicas para o animal. Às vezes, preferem não doar o animal a enviá-lo a um lugar que não é totalmente  confiável para a segurança dele.

A Adote um Gatinho é uma dessas ONGs com critérios de adoção e possui um regulamento severo, contando até com visitação às casas por voluntários responsáveis. Apesar das desistências, Susan acredita que essa é a melhor forma de garantir a adoção responsável: “Temos bastante desistência, mas acreditamos que estamos no caminho certo e só doamos se julgamos que o gato estará bem cuidado e seguro dentro de casa. Somos voluntários, não recebemos nada por esse trabalho, a não ser a alegria de saber que o gatinho que cuidamos no abrigo ou em casa terá uma vida boa.”

Após a adoção do novo companheiro, muitos momentos marcantes virão. Um animal de estimação não é um enfeite, é um ser vivo e torna-se um membro da família em pouco tempo. Por isso, a adoção é um ato de muita responsabilidade e seus frutos trazem efeitos positivos para a sociedade e, principalmente, para quem acaba de adotar um novo amigo.

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André e Roberta adotam sua segunda gatinha na Feira de Adoção Toca dos Gatinhos, que acontece todos os sábados no Pet Shop Animall Vet (Rua Itararé, 164, Bela Vista). (Foto: Marina M. Caporrino)

“Posso falar sobre um [gatinho] que adotei, o Ozzy. Ele foi resgatado de uma lata de lixo, depois que as crianças do condomínio onde a mãe dele deu cria brincaram como ele, a ponto de derrubá-lo no chão algumas vezes e considerá-lo morto. Ele tinha 10 dias de vida, respirava com dificuldade e não mantinha temperatura corporal. Foi criado por mim na mamadeira e ficou com sequelas. Ele somente enxerga vultos e anda todo torto, com dificuldade. Está comigo há 9 anos, forte e feliz.” – Susan Yamamoto, fundadora da Adote um Gatinho, sobre a experiência com seu gatinho Ozzy.

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