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Os perigos de correr entre tantos que correm

Por Gabriela Sarmento (gabrielasarmento11@gmail.com) É inegável que o campus do Butantã é um lugar agradável de se estar. Com muitas árvores e avenidas largas, parece um porto seguro da natureza dentro da selva de pedra que é a capital paulistana. Se as pessoas que estão lá diariamente para estudar ou trabalhar têm essa sensação, o …

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Por Gabriela Sarmento (gabrielasarmento11@gmail.com)

É inegável que o campus do Butantã é um lugar agradável de se estar. Com muitas árvores e avenidas largas, parece um porto seguro da natureza dentro da selva de pedra que é a capital paulistana. Se as pessoas que estão lá diariamente para estudar ou trabalhar têm essa sensação, o que dirão aquelas que vão especialmente para praticar esportes.

Se você ainda não percebeu o quão intenso é o fluxo de esportistas nas alamedas da universidade com o cair da tarde, preste atenção. Se quiser ficar abismado mesmo, vá fazer uma caminhada no sábado de manhã. A USP, simplesmente, recebe milhares de pessoas e acaba por se tornar o maior parque da cidade.

A corrida, um dos esportes mais praticados contemporaneamente, atrai muitos atletas para o campus, devido a sua geografia que permite treinos diversificados com retas, subidas e trilhas. Dizem que a corrida é um esporte democrático, por só ser necessário um par de tênis, um lugar e disposição para treinar. Entretanto, na prática, não é bem assim. Os corredores de rua têm de ficar atentos ao ambiente ao redor, uma vez que utilizam a área que comumente é dos veículos. Na USP, não é diferente. Lá os motoristas também não se esforçam para compartilhar a área, que é grande, diga-se de passagem, com os esportistas, e por isso é comum ouvir gritos, xingamentos e buzinas. O corredor Denis Andrade, todavia, acredita que um dos motivos para que as pessoas abusem na velocidade no campus é a largura das avenidas. “As alamedas são mais largas (do que as ruas), têm curvas, mas justamente por isso, os caras abusam mais.”

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Nas ruas da Cidade Universitária, é comum que corredores e automóveis dividam a mesma faixa. (Foto: Carolina Linhares)

Segundo o corredor Marcelo Richter, que treina no campus há mais de 20 anos, as dificuldades para treinar só aumentaram com o tempo. “Desde que a USP foi integrada ao sistema viário de SP, ela ficou muito perigosa, as pessoas aceleram ao utilizam a avenida da Raia como escape para as marginais.” De fato, é perceptível o aumento do tráfego nos horários de pico em direção ao P2, um dos portões que dá acesso a Marginal Pinheiros. Além disso, outro ponto ressaltado é a velocidade com que os ônibus trafegam no campus. “Os ônibus correm tanto que quase encostam a carroceria no chão. A minha opinião é que não deveria ser permitido ônibus urbanos transitarem dentro da USP. Eles deveriam parar fora e só o circular entrar com o motor regulado para andar até 40km/hora”, disse Richter.

Diante desse panorama, não são raros os acidentes envolvendo corredores. O mais recente aconteceu no sábado, 16 de agosto, quando Luiz Antonio Conceição Machado, 43, avançou na calçada e atingiu cinco pessoas. O corredor Álvaro Teno, 67, morreu e os outros atletas feridos foram levados ao hospital. O motorista apresentava sinais de embriaguez e ria após ter cometido o acidente. Ele foi preso em flagrante e levado para o 91º Distrito Policial.

Denis não treinava na USP naquele sábado, porque estava fazendo uma prova em Florianópolis e só conhecia de vista o senhor Álvaro. Já Marcelo conhecia-o e estava acabando de sair da USP quando soube do acidente. Eles corriam juntos em praticamente todas as corridas, porque tinham o mesmo ritmo. “Agora ele (o motorista) vai ser julgado, mas a vida que foi, se perdeu, não recupera.”

Para evitar que acidentes ocorram é fundamental que as pessoas se conscientizem. Claro que já há mecanismos do Estado como a Lei Seca para coibir a não combinável junção do álcool com a direção. Infelizmente, a USP é conhecida como terra de ninguém, lugar onde não se multa, onde não se tem radar. Para piorar, a administração da Universidade se isenta de qualquer responsabilidade com os corredores que usam o espaço, que é público, para treinar. Ritcher afirma que “A USP simplesmente não faz nada, se omite, não participa, não ajuda e não quer que ninguém ajude. As assessorias esportivas poderiam ajudar fazendo sinalização, poderiam fazer uma campanha para ajudar a elucidar os motoristas a tomarem cuidado, mas ninguém toma providência alguma. Simplesmente deixam rolar.”

No caso hipotético da universidade proibir a prática da corrida no campus com o argumento de que é incapaz de garantir a segurança dos atletas, não há outro lugar para que os treinos ocorram. “Não tem para onde você direcionar essas pessoas. Os parques não comportam. O maior da cidade, que é o Ibirapuera, já é lotado de sábado independente da hora. Se não for aqui as pessoas vão correr no meio da rua. Vai ser três vezes mais perigoso do que é aqui dentro”, disse Denis Andrade.

Não há dúvidas de que o esporte que mais conquistou adeptos nos últimos anos precisa ser praticado com atenção. Seja nas ruas, seja dentro da USP. Por isso, algumas precauções podem e devem ser tomadas. O atleta deve correr no sentido contrário dos carros, ter cuidado redobrado nas conversões e usar roupas fluorescentes em exercícios realizados à noite. Treinar ouvindo música também não é uma boa ideia, porque além de distrair, impossibilita que se escute eventuais buzinas sinalizando um iminente perigo.

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