Jornalismo Júnior

Página inicial
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Canudos

Bruno Molinero Brasil, terra da pupunha, da pororoca, do samba no pé, do Cristo de braços abertos, do homem cordial. A terra do sorriso, do futebol penta-campeão, da caipirinha, do carnaval e da mulata requebrando na avenida. Ah, o Brasil do brasileiro, homem sentado na praia e água de coco na mão. Mas o Brasil …

Canudos Leia mais »

Bruno Molinero

Brasil, terra da pupunha, da pororoca, do samba no pé, do Cristo de braços abertos, do homem cordial. A terra do sorriso, do futebol penta-campeão, da caipirinha, do carnaval e da mulata requebrando na avenida. Ah, o Brasil do brasileiro, homem sentado na praia e água de coco na mão. Mas o Brasil também é terra de sangue, terra de terra, terra de luta. E não há maior conflito do que Canudos, em que milhares de pessoas perderam a vida nas mãos da recém-nascida República. A revolta, assim encarada, foi liderada por Antonio Conselheiro. Contrários aos impostos cobrados e ao casamento civil, por exemplo, sertanejos se juntaram a Conselheiro e se fixaram em Canudos, no sertão baiano, onde se instaurou praticamente um Estado dentro do Estado, em que todos tinham terra e trabalho.

Se uma história tão cinematográfica quanto a de Canudos não tivesse uma versão para a telona, seria um verdadeiro desperdício. Mas há. Com quase três horas de duração e direção de Sergio Rezende (que despontou esse ano com seu novo filme, “Salve Geral”), “Guerra de Canudos” conta a história da revolta a partir da vida de Luisa e de sua família. A personagem principal é uma menina que vê sua estrutura familiar se desintegrar pela chegada de Conselheiro e do messianismo.

Acuado pelos homens da nova República, Zé Lucena (pai de Luisa) decide entrar no grupo de Conselheiro e abandonar toda a vida que a família levava. Contudo, como a menina não simpatizava com o messias do sertão, ela foge, enquanto seus pais e seus irmãos se dirigiam a Canudos. Sustentando-se como prostituta, Luisa, por sua vez, acaba conhecendo um soldado e o acompanhando na expedição que destruiria o arraial de Antonio Conselheiro. A narrativa, ainda, é costurada pela análise de um jornalista, que está presente em todo o filme e tem uma visão extremamente sóbria sobre os fatos.

Com bilheteria satisfatória, “Guerra de Canudos” é uma produção épica brasileira e chegou a ser transformada em uma minissérie de quatro capítulos, na rede Globo. Aliás, o filme é repleto de atores da turma do plin-plin. Marieta Severo, Paulo Betti, Cláudia Abreu, José Wilker e Selton Mello são só alguns nomes que aparecem suados no longa – com destaque para o José Wilker que, com barba e bigode esvoaçantes, interpreta Conselheiro, porém mais parece o Matusalém nacional.

É bom lembrar, ainda, que Canudos é a gênese da favela carioca. Ao fim do conflito, os soldados sobreviventes se instalaram nos morros do Rio de Janeiro, em casas de madeira, por falta de onde morar. O próprio nome da comunidade que eles criaram veio do arraial baiano, uma vez que “favela” era um morro ao sul de Canudos que servira de base e acampamento aos soldados republicanos.

Portanto, esses militares (como o personagem de Selton Mello) são, na verdade, os bisavôs  da nova tendência do cinema brasileiro: o retrato da marginalização e da favela. Sem Canudos, não haveria Dadinho (ou “Zé Pequeno, porra”) nem “Cidade de Deus” – que não seria eleito um dos 100 melhores filmes de todos os tempos pela revista “Times”. Assim, “Guerra de Canudos” é uma ótima introdução histórica ao cinema contemporâneo nacional. Vale a pena ver.

1 comentário em “Canudos”

  1. Antônio Araújo de Souza

    Muito bom esse filme, principalmente porque eu participei dele. Foi muito bom estar nessa gravação fazendo parte da tropa através do Esquadrão de Polícia Montada da Polícia Militar do Estado Bahia.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima