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“Mas cadê assistência?”

Bruna Buzzo Um menino, desfocado ao fundo, observa os relógios em primeiro plano na feira urbana. Não pode comprá-los. A feira não negocia produtos da própria comunidade, tudo que ali se vende veio de fora. Não há economia. Não há dinheiro. Apenas pobreza, seca e subsistência. Esta é a realidade que Rodolfo Nanni nos mostra …

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Bruna Buzzo

Um menino, desfocado ao fundo, observa os relógios em primeiro plano na feira urbana. Não pode comprá-los. A feira não negocia produtos da própria comunidade, tudo que ali se vende veio de fora. Não há economia. Não há dinheiro. Apenas pobreza, seca e subsistência. Esta é a realidade que Rodolfo Nanni nos mostra em O Retorno, documentário sobre o Nordeste brasileiro.

Em 1958, Nanni realizou juntamente com Josué de Castro o documentário O Drama das Secas, que seria parte integrante de um grande filme sobre a miséria em diferentes aspectos e partes do mundo. O grande filme, no entanto, não aconteceu. Cinqüenta anos depois, o cineasta resolveu retornar ao nordeste para repensar o trabalho realizado e retornar aos laços que criou com a situação do nordeste.

O filme inicial era um retrato de massas: naquele ano, uma grande seca devastara a região do semi-árido brasileiro e a população estava toda nas ruas. Havia muitos retirantes pelas estradas e não foi preciso procurar por personagens, eles estavam todos ali, lutando pela sobrevivência e indo em direção ao litoral, uma pequena esperança de melhoria nas precárias condições de vida da população.

Já em O Retorno, o que vemos é um filme sobre indivíduos: diferentes habitantes contam suas histórias e as de suas famílias. Nanni procurou retratar a vida dos pequenos agricultores que lutam pela sobrevivência de suas famílias: seus dramas (e a solução para eles) estão retratados no filme, nas palavras simples e sábias do sertanejo nordestino que dá a receita para que o governo irrigue as terras do sertão. As imagens do filme antigo reforçam a idéia de que pouco foi feito nestes anos, reforçam o abandono deste povo à sua própria miséria.

Os pontos altos deste filme, além de algumas falas brilhantes dos entrevistados, são a trilha sonora, assinada por Anna Maria Kieffer, e a fotografia, com os excelentes enquadramentos de Roberto Santos Filho. As canções mostram a riqueza cultural do Nordeste, em oposição à miséria física retratada na tela. A rabeca, instrumento que costura o filme inteiro, é típica da região e é usada pelos contadores (e cantadores) de histórias, juntamente com as violas, em suas narrativas. Com a presença destes instrumentos, o filme assume o caráter de uma história que se esta contando.

Os problemas com os quais o diretor teve contato cinqüenta anos atrás ainda são os mesmos e o abandono que ele encontrou ao retornar ainda é o mesmo. Em 1958, a estrada ferroviária levava os habitantes só até Serra Talhada, e não interessa saber onde fica este município. A miséria é a mesma em todo o semi-árido nordestino. E, assim como na pequena cidade, muitas outras tiveram suas ferrovias abandonadas; em um lugar que parece esquecido pela roda da história.

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